9/12/2007

Cap 1

Ela despertou. Não estava em sua cama como de costume. Os primeiros segundos logo antes de abrir os olhos lhe pregaram uma peça fazendo com que ela imaginasse estar segura, dentro de seu apartamento onde morava sozinha no interior do Rio de Janeiro. Não, ela estava agora muito longe de casa, e mesmo que precisasse de seu paz, de seu canto, ela precisaria viajar pelomenos três dias de ônibus para poder chegar à sua casa.
O fato de acordar em um lugar praticamente desconhecido a fez se encher de um repentino medo. Nada daquele quarto na verdade a amedrontava, somente a idéia de estar distante e incomunicável de todos os que conhecia e de não poder se sentir a vontade pois estava como hóspede de um casal de velhos.
Pagara uma diária extremamente baixa para poder passar ali a noite e guardar sua bagagem durante o dia, mas ela não tinha nenhum tipo de privacidade, ficando a mercê dos costumes e manias daquelas duas pessoas que poderiam ser seus avós.
Ela se levantou taquicárdica e lembrou-se do que estava fazendo ali: estava tentado dominar o medo que sentia dentro de si. Havia se entipido de remédios faziam os sintomas desaparecer mas que não tratavam a causa. Havia pariticipado de aulas de meditação e todo um contexto de reeducação espiritual e tudo isso lhe tratava sim a causa do medo, mas eram na verdade métodos que agiam de forma homeopática e em fases agudas da doença ela se sentia pior que nunca. Sabia no entanto que a somatização de tantos problemas era algo desnecessário. Tinha 18 anos. Seu corpo sempre havia funcionado de forma perfeita. Ela podeia proveitar a juventude e correr o mundo pois seus pais possuiam uma boa estabilidade financeira. Mas tudo o que ela queria era ficar ali, enterrada em sua própria cama, temendo o próximo passo, deixando as horas passarem.
Decidiu repentinamente, em meio a uma fase aguda da doença (chamada medo) em forçar-se contra todo o que poderia lhe causar mal. Jogar-se de frente sobre as pontiagudas e ameaçadoras potencialidades do mal que a acometia.
Numa manhã, mais fria do que essa que ela estava agora, ela resolveu juntar poucas roupas em uma mochila, tomou um rápodo café, avisou aos pais que viajaria e eles, sem entender, ficaram preocupados. Porém, antes de fazer qualquer pergunta sobre essa tal viagem, ela já havia saído pela porta da frente. Ligaram rapidamente para o seu ceular:
- Alô...
- Garota, não entendemos nada, onde você está indo?
- Pai, estou indo lutar contra o meu medo, tenho que vender essa força que me comanda ou ficarei escrava dela pelo resto da vida.
- Mas filha, de repente assim.
- Pai, estou levando uma contidade de dinheiro que dará para aviagem que vou fazer, não se preocupem, eu ficarei bem.
- Mas, Júlia...
Ela havia desligado o celular e logo em seguida jogou-o em uma lixeira próxima. Havia levado sim uma quantidade de dinheiro significante, mas não para uma viagem como aquela. Ela sabia que provavelmente teria que se virar, mas era isso mesmo que ela queria provar, que ela era perfeita, cheia de capacidades e de beleza e que poderia amar o mundo assim como todas as outras pessoas o fazem, sem precisar programar cada passo a ser dado com cautela. Ela estava livre e morria de medo, mas mesmo assim ela continuava.
Na casa dos velhos, já um pouco distante de seu lar, não submetida a nenhum conforto, ela havia passado a primeira noite da sua vida em que não estava completamente segura de tudo o que a rodeava, de tudo o que iria acontecer. Pensou em voltar atrás inúmeras vezes, mas sabia que se fizesse isso, perderia completamente o respeito por ela mesma. Levantou-se morrendo de cólicas e dores no estômago (sinais de como o medo poderia se manifestar nela) e foi até a janela olhar para um lugar diferente, olhar para a sua nova casa, o mundo.

Um comentário:

Unknown disse...

Gostei da idéia...
Dá pra fazer uma parada legal...
Tô com vc!
Bjs