5/27/2019

Eu não tenho conhecimento da vida. Sempre existi em um ambiente controlado, cheio de seguranças para cada uma das minhas paranóias e sempre permaneci refém desse medo e receio.
Eu não sei se isso seria apenas uma forma de olhar pra tudo ou se é uma interpretação minhas. Eu duvido de mim todo o tempo. Eu prefiro a dúvida do que a certeza porque a certeza te fecha num conceito imutável.
Porém, sou prisioneiro.
Eu não conheço nada, nunca passei da esquina.
Vivendo enclausurado aqui dentro eu pioro a cada dia
E eu não sei onde vou parar.
Talvez seja a hr de não talvezes. A hr de certezas mesmo que loucas, certezas.
A vida é curta e eu não quero morrer numa cama confortável.

2/22/2019

Eu que nado
Na superfície
No chão de pedra
Fitando o fundo
Não percebo mais
Perdi o tato

O tempo é o mergulho
Que eu nunca dou
Mas que eu observo
À distância

Não sinto os pés
Não sinto os braços
As costas mortas
A boca vazia



9/11/2018

o asfalto destrói a ideia
dissolve, digere e desmembra
o asfalto percorre sublime
minha sombra que vejo com pena

os faróis iluminam tão pouco
a chuva que cai mas não refresca
os faróis - olhos cegos tropeçam
naquilo que sou: o que já não presta

eu corro o vazio, o vazio corre em mim
escalo o nada até o cume do inexistente
deito na cama sem luz, ninguém me sente
ma mato em vida, e morro descrente

se há outra vida que possa viver
rogo pra que a culpa não me seja congênita
que o medo não me ampute as pernas
 e que o ódio não traga minhas palavras blasfemicas

......
Há tantos anos eu leio meu próprio blog, meu próprio registro. Quando escrevo aqui é quando me sinto pior. Talvez como uma espécie de pedido de socorro, um exorcismo para as angústias.
Não adianta de nada. Não me torno nada melhor. Não me sinto nada aliviado.

Eu me entendo como alguém difícil. Eu lamento muito causar o mal que causo aos outros e a mim mesmo e, se eu pudesse, escolheria nem ter nascido.

Tudo parece complexo. A noite eu não encontro o sono, não durmo ou durmo muito pouco. Meu cérebro não para. Meus ouvidos berram. E eu fico escondido aqui, pequeno, em meio a essa sinfonia descordenada de várias bandas tocando músicas diferentes ao mesmo tempo.

Eu imagino muito como vou morrer. Às vezes encontro mortes plausíveis. Às vezes desejo que seja logo.





o material e o espiritual
numa cesta acima da mesa
dão luz à decoração do lar
mentem pra quem ousa olhar

sem espírito não há
quem possa conseguir mentir
sem forma, sem gosto, sem sexo
sem espírito a cesta está no mesmo lugar

em frente ao espelho da fogão
a matéria olha ao redor
sem espírito



6/12/2018

A vontade de morrer pra mim sempre foi relacionada à vontade de fuga.
De um lado há a questão de se importar demais com qualquer coisa. Do outro, a autocrítica feroz, ácida, dura.
E se alguém imagina que morrer significaria, pra mim, que considera isso como fuga, se elevar a algum "lugar" melhor, está errado.
A vontade é realmente de deixar de existir. Nada mais depois, nenhuma consciência pra lembrar ou se importar. Apenas o zero absoluto.
Há quem veja todas as variáveis da vida como algo belo. Eu me pergunto, por que viver?
Se vc tem essa dúvida, olhe pro seu cão. Tente colocar sentido na existência de uma barata. Veja que sua vida vale tanto quanto qualquer outra é o sentido dela é o mesmo. Vc existe por que existe. Nada mais.

Sim, certamente estou com álcool nas veias. É quando me sinto melhor, mais focado, mais certo de que não importa nada importar.

Um brinde a falta de porquês.


Sentir-se em uma cadeira confortável, ver tv enquanto o sol se põe... Naufragar em um mar calmo rumo a morte. Sem ondas, sem vento.. sem senso da realidade ao redor.

Eu vi meus parentes envelhecerem assim.
Eu os vi aceitarem o câncer enquanto assistiam Silvio Santos. Eu os vi ficar carecas, magros, secos, viciados em café e cigarros.

A vida não tem caminhos alternativos pra quem aceita qualquer caminho. Ladeira abaixo. Na inércia, a favor da gravidade.

Eu sou o contra. Eu sou o anti. Eu subo o declive. .
Eu tomo um porre em meio a quimio. Eu respiro o irespiravel. Eu sou burro e sei que sou. E por saber que sou, não descanso. E por saber que sou, tento não ser.

Eu sou o anticristo.
Eu sou de Lúcifer enquanto esperam a sombra..
Eu sou da carne enquanto esperam o espírito.
...
Eu sou lixo, eu amo ser.

Foda-se minha história.
Foda-se meu background
Fodamse todos ao meu redor.
Sou só
Como todos somos


E não adianta esperar um prato cheio se criar na sua frente.
Não adianta esperar que os outros resolvam.
Não adianta nada..
Aproveite a vida
Pq ela é curta.
Pq ela acaba rápido
Pq não existe céu ou inferno ou purgatório
Pq nada significa nada.

Somos fracos
Somos fortes
Somos.nada
Foda-se
Vão todos tomar no cu

Que morram rápido e sem dor. Amem.


Um dia desses, já há alguns meses, eu atingi um dos pontos mais baixos das minhas questões comigo mesmo. Como uma pessoa extremamente analítica e altamente cética, costumo analisar minha vida de forma tão fria e pessimista que tenho que me perguntar quase que de hora em hora "vale a pena continuar existindo"?

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É interessante voltar aqui para escrever e perceber que ja havia começado o txt de hoje semanas atrás, com o mesmo pensamento de merda.

Hoje eu acho que sei descrever depressão. Muitas vezes eu pensei mesmo em acabar com tudo, mas sempre tentava me focar nas coisas que eu ainda queria fazer pra poder me dar um norte. Hoje nada me importa. Como não tenho vontade de fazer nada além de ficar deitado de olhos fechados, não me importam as viagens, bens materiais, festas, etc.

Vir escrever essa merda exigiu de mim um esforço fodido.



3/05/2018

Christopher Hitchens escreveu em seu último livro, "Mortality": "I don't have a body, I am a body."
Eu não li o supracitado livro. Encontrei essa citação no instagram de Adam Nergal, vocalista e compositor da polonesa Behemoth.

Minha admiração pela figura de Nergal começou, acredito eu, juntamente com a admiração de muitas outras pessoas que se espelham ou almejam tornarem-se pessoas fortes, pessoas mais indestrutíveis. Nergal teve leucemia em 2010 já com um péssimo prognóstico e se manteve, mesmo com todo o desespero que o momento lhe proporcionou, firme em suas convicções filosóficas. 


Mas vamos retornar ao tema de fato. Depois de muito pesquisar, filosofar juntamente com outras pessoas, debater e principalmente sentir, eu estou chegando as conclusões que fazem sentido pra mim, pra minha forma de pensar e ver o mundo.

Como um biólogo e como uma pessoa que vai estar sempre ligada a ciência e ao desenvolvimento científico, eu não consigo aceitar a ideia de que existem respostas prontas para grandes questões da humanidade. A cada dia damos mais um passo em direção à alguma resposta que deve estar mais próxima da coerência do que é de fato algo. Sendo assim, qualquer afirmação religiosa pra mim, de qualquer religião, perde o crédito. 

Sendo dessa forma, porque o ser humano precisa da ideia de que não é somente o corpo que é/tem nesse momento? A grande maioria de nós não consegue lidar com a falta de sentido da existência. Isso automaticamente desencadeia um sentimento de fé nas pessoas que dá sentido ao fato de se estar vivo, aqui e agora. O zero absoluto em relação ao sentido do todo é frio demais pra talvez mais de 90% dos Homo sapiens sapiens. Assim, a fé toma corpo, aumentando sua densidade até se tornar algo palpável, estruturado e complexo. Assume regras, livros, ícones. Em nome da fé a solidão é deixada de lado, há sentido em ser.

Poderia eu dizer que a loucura das pessoas para se distanciar dessa solidão é tão absurda que faz com que elas sigam cegamente qualquer estória contada?

Cada religião tem seu próprio céu. Algumas tem seus infernos. E no fim, o que mais tem coerência pra mim é o fato de que somos apenas estruturas biológicas que se ergueram da possibilidade da existência. A morte é parte do ciclo e significa o fim da existência. 

No entanto eu tenho fé. Eu sou parte da população que sente essa solidão e não a suporta. Eu só deixo a minha fé livre, sem dar formato a ela, sem colocá-la como o sentido da minha vida.

No fim, pra mim fica evidente que eu realmente não estou habitando esse corpo, eu SOU esse corpo. E quando esse corpo se tornar sem vida, será apenas uma parcela do que eu fui.

2/25/2018

então foda-se.
eu nasci aqui, agora
nada tive com isso
além de ser eu

mas eu sou
o pior do aqui e do agora
deformo tudo o que vejo
dentro do meu olho minero o feio
no meu nariz, cato o fétido
garimpo a dissonância
engulo somente o vômito


foda-se então
foda-se a mim
eu que não sou daqui
eu que não deveria existir
eu que não acrescento senão o póstumo
eu que não alegro
.
.
.
a cada gole de algo forte há um pouco do brilho de uma luz bonita;
a cada pílula, o esquecimento das minhas regras;
a cada droga há menos da droga eu.
.
.
.
certamente ele tem que morrer
certamente, 37 anos já é demais
certamente, cultivar esse verme em meu cérebro que dissolve cada momento bom com seu ácido digestivo é algo que precisa de um ponto final.
morra verme
.
morra e apodreca longe daqui.

2/23/2018

Eu sou essa merda mesmo
Imprestável, ruim de serviço
Velho, pulverizado de fungos
Lento, sujo, porco, burro

Eu sou mesmo
Merda mesmo
Que nada sabe
Que nada faz

Tudo o que sei é o que não sou
Tudo o que me resta é o que não sei
Tudo o que fiz de nada vale
Mal feito, pela metade, com preguiça.

Eu sou merda
Merda é o que sei fazer
Merda configura minhas células
Merda corre por meus axônios

Eu sou merda
Merda me objetiva
Merda pq não acredito no mesmo
Merda pq não aceito