3/05/2018

Christopher Hitchens escreveu em seu último livro, "Mortality": "I don't have a body, I am a body."
Eu não li o supracitado livro. Encontrei essa citação no instagram de Adam Nergal, vocalista e compositor da polonesa Behemoth.

Minha admiração pela figura de Nergal começou, acredito eu, juntamente com a admiração de muitas outras pessoas que se espelham ou almejam tornarem-se pessoas fortes, pessoas mais indestrutíveis. Nergal teve leucemia em 2010 já com um péssimo prognóstico e se manteve, mesmo com todo o desespero que o momento lhe proporcionou, firme em suas convicções filosóficas. 


Mas vamos retornar ao tema de fato. Depois de muito pesquisar, filosofar juntamente com outras pessoas, debater e principalmente sentir, eu estou chegando as conclusões que fazem sentido pra mim, pra minha forma de pensar e ver o mundo.

Como um biólogo e como uma pessoa que vai estar sempre ligada a ciência e ao desenvolvimento científico, eu não consigo aceitar a ideia de que existem respostas prontas para grandes questões da humanidade. A cada dia damos mais um passo em direção à alguma resposta que deve estar mais próxima da coerência do que é de fato algo. Sendo assim, qualquer afirmação religiosa pra mim, de qualquer religião, perde o crédito. 

Sendo dessa forma, porque o ser humano precisa da ideia de que não é somente o corpo que é/tem nesse momento? A grande maioria de nós não consegue lidar com a falta de sentido da existência. Isso automaticamente desencadeia um sentimento de fé nas pessoas que dá sentido ao fato de se estar vivo, aqui e agora. O zero absoluto em relação ao sentido do todo é frio demais pra talvez mais de 90% dos Homo sapiens sapiens. Assim, a fé toma corpo, aumentando sua densidade até se tornar algo palpável, estruturado e complexo. Assume regras, livros, ícones. Em nome da fé a solidão é deixada de lado, há sentido em ser.

Poderia eu dizer que a loucura das pessoas para se distanciar dessa solidão é tão absurda que faz com que elas sigam cegamente qualquer estória contada?

Cada religião tem seu próprio céu. Algumas tem seus infernos. E no fim, o que mais tem coerência pra mim é o fato de que somos apenas estruturas biológicas que se ergueram da possibilidade da existência. A morte é parte do ciclo e significa o fim da existência. 

No entanto eu tenho fé. Eu sou parte da população que sente essa solidão e não a suporta. Eu só deixo a minha fé livre, sem dar formato a ela, sem colocá-la como o sentido da minha vida.

No fim, pra mim fica evidente que eu realmente não estou habitando esse corpo, eu SOU esse corpo. E quando esse corpo se tornar sem vida, será apenas uma parcela do que eu fui.