10/06/2007

Uma menina quando chega a puberdade se ente linda e tenta se vestir para uma festa. Ela vai até seu armário e pega o que acha, de acordo com sua concepção, o seu melhor vestido. Ele é porém, um vestido velho. Se encaixa perfeitamente as dobras, às curvas recém modeladas pelos hormônios. Confortável, o vestido parece fazer parte seu organismo. Uma simbiose onde ela dá movimento ao vestido e ele lhe oferece em troca a sua própria beleza.
Ela se olha no espelho e vê o vestido desbotado. O vestido que vestira sempre. Desde de sua infância prolongada.
Ela tinha agora pouco menos de trinta e se sentia agora, bem tardiamente, uma adolescente. Assistia a filmes pornôs e ria baixinho. Tentava conversar com as amiguinhas (essas sim, de 15 anos) sobre beijos roubados e menarcas. Essas porém já falam de sexo, de verdade, em variedade.

A menina se olha no espelho e percebe pela primeira vez que o vestido de todos aqueles anos não serve mais para uma festão tão pomposa pois já está gasto e provavelmente a pequena cidade em que morava já tinha se cançado de vê-la vestida com ele.

A menina pensa em deus, e se pergunta, porque eu tenho o fardo da escolha? Eu tenho uma vida e agora não sei o que fazer com ela. Não posso simplesmente dizer: "não quero ter que fazer isso" e ´parar com essa novela das 8? Deus a deu uma vida e ela tinha que criar seus caminhos, tinha que comprar novos vestidos e constituir família. Ela não podeia viver assim pra sempre. Então o inferno ficou mais quente. A menina percebeu que teria que tomar uma atitude, mas a dúvida de se iria com o vestido mais novo e que lhe pinicava o corpo e a o vestido velho e confortável estava lhe consumindo.

A festa começou. Todos estavam lindos em suas roupas. Algumas velhas, algumas alugadas, algumas novíssimas. E eis que a menina desce as escadas vagarosamente. E todos param na festa para olhar quem era a beldade que descia. Aquela maravilha que não era mais adolescente, já era uma mulher de verdade, mas que ainda não conseguira entender isso. Ela descia devagar, degrau por degrau e os queixos de cada um na festa se abriam para demostrar o quenato estavam lisongeados com a presença da menina.

E eis que surge correndo um dos criados da casa e lhe fala, em tom desesperado ao ouvido:

- Menina, que porra é essa?
- Menina é o caralho, Dona Georgina, sou uma mulher!
- Desculpe, senhora... mas é que a senhora está nua!
- Nua não, tenho os sapatos altos e minha pulseira e meu colar.
- Mas não pode ficar assim na festa...
- Como?
- Não vê que isso é um absurdo?
- Criado, minha vida é um absurdo! O fato desse corpo está se movendo é um absurdo. O fato de haver o que chamam de força divina nesse monte de carne é o que mais me deixa pasma. Eu tenho essa vida, não foi minha escolha ter que vivê-la. Sempre me escondi no passado. Tive que finalmente tomar uma decisão: ou eu continuava no passado, ou eu rumava para o novo. Eu não podeia ficar estática diante de uma vida a ser vivida.
- Mas o que isso tem a ver com roupas? - perguntou então um já mais que enlouquecido criado.
- Tem a ver com as roupas, com as feições, com tudo o que eu externo! Eu não quero o passado, nunca mais, e o futuro óbvio que me oferecem me desagrada. Então, o que tenho a dizer é que de hoje em diante eu contruo meu futuro como eu quiser.

O criado continuava sem entender porra nenhuma, até porque ele não estava na cabeça da mulher. Ela terminou de descer as escadas nua. Quer dizer, nua não, com sapatos de salto alto, uma pulseira e um colar e uma cabeleira linda lhe adornando as costas. Foi falar com os convidados. Não se importou com aqueles que comentavam que ela havia se tornado uma vadia.
No dia seguinte, acordou cedo, ainda de ressaca. Colocou uma roupa de malhar, colada. Olhou pela janela do segundo andar da sua casa. Viu a distância da sacada até o chão. Seria uma bela queda. Então ela se pendurou do lado de fora, colocou o pé em uma quina da parede, segurou em uma outra aresta e foi assim, descendo a parede até lá em baixo. Quando lá chegou, começou um cooper matinal, enquanto o sol terminava de nascer. Em seu mp4, uma canção que repetia sem parar "nothing can stop me now, cause i don´t care anymore".

E todos viveram felizes para sempre.

Verdade


Uma pessoa
De verdade
Sente pouco
Vê mais
A verdade
Em sua fronte
Em sua verdade
Em sua malícia
Em seu ipod
A verdade
No espelho
Na balbúrdia
Na sangria desesperada
Mais ar
Mais líquido
Pra respirar
Uma pessoa
Um ser humano
Um homem de verdade
Vê o mundo
O mundo não o vê
Estático
Paralítico
Com o seu "the road"
Ele deveria se divertir mais
Num mundo
Conceitual
Com bucetas e caralhos
Com verdades de mentira
Mentira
Mentira
Cavalo
Eu tira isso de mim
Mãe me dá
Limpa
Tubo
Metafísico
Tubo
Canudo
Cano
Porra
Uretra
Porra
Uma pessoa
de verdade
Vê a verdade em si
E vê a verdade que emana refletida nos outros
Eu sou de mentira
Eu sou de mentira
Eu sou de mentira
!
!!
!!!
!!!!