8/17/2007

As florestas lançam sua morte
Em minha sorte, a duraze de tentar
Percorrer os caminhos que a gravidade
Impuseram a meu destino

E as lanças que as árvores fazem
Na loucura jazem, trazendo a cor
Tingindo a dor que movimenta
O ar que eu corto ao andar

Em todos existe a herança da morte
A tristeza do e o cheiro do amanhã
E o enigmático poder do sangue

E em todos existe a fúria
Como o mar em tempestade
Como na impaciência da loucura

8/16/2007

Minha Canção - Novela parte 2

"Ele contemplava o céu após ter feito aquilo que suas veias o mandavam. Havia sangue dentro e fora de sua pele, do seu corpo. Estava completamente vestido de preto e tentava ostentar uma imagem de alguém muito superior ao que realmente se escondia sob uma casca indefinida. Pessoas ouviram os gritos que viravam a esquina e correram em um misto de prazer, curiosidade e medo. E ele se mantinha parado, olhando o céu que já estava cinza, tentando impedir que alguma lágrima escorresse dos olhos.
- Meu deus! - finalmente os olhos impacientes da multidão conseguiram encontrar a origem dos gritos. - O que aconteceu aqui?
As perguntas, o desespero, a carne completamente deformada aos seus pés. Iohan havia esfaqueado dezenas de vezes o corpo do homosexual que não lhe deixava em paz. Andava armado pois fazia parte de uma seita satãnica que proporcionava essa atitude. As roupas pretas, um pentagrama invertido, a cabeça raspada mesmo com o ríspido frio invernal de seu país. Ele queria ser homem, muito mais do que aparentava. Agora, já não sabia o que era, monstro ou criança."
- Senhor Thiago, o que aconteceu? - perguntou em meio ao susto causado pela minha queda.
- Romeu, acabei de pisar em algo que me transpassou o pé!
Haviam muitas coisas que eu não conseguia entender naquele momento. O céu se abrindo, mostrando as estrelas que há muito não ficavam expostas, o sonho da noite anterior, onde eu estava na Europa, a visão de uma menina vestida de preto e branco sendo atropelada por mim e a história de Iohan que não me saía da cabeça desde que havia tomado a decisão de me matar. Preferi não contar à Romeu nada disso, pois sua mente cética não conseguiria conceber tais fatos. Fitei novamente o céu e verifiquei que ele continuava fechado como antes: uma expessa camada de gases que impedia que o sol causasse o câncer (o grande regulador da quantidade de vida na Terra).
Romeu me ajudou a ficar de pé, e me arrastou até um banco onde ue pude constatar que havia encontrado meu objeto Maia. Ele havia transpassado meu pé.
Finalmente quebrei o silêncio:
- Romeu, você conhece o livro "Andando em Carrosséis"?
- Sim senhor, minha mãe leu pra mim quando era criança, é uma livro infantil muito famoso.
- Você sabe porque seu autor não é divulgado?
- Não senhor.
- Seu nome era Iohan, nunca conheci seu sobrenome. Em uma noite, assassinou brutalmente um homossexual que lhe tentou beijar. Foi preso e condenado a prisão perpétua pelo crime bárbaro cometido. Dentro da prisão, contam que ele ficava muito tempo do seu dia sentado em um canto da cela escrevendo anotações que ele dizia que eram seu diário. Quando se enforcou, depois de ser estuprado, suas anotações foram lidas e convertidas nesse livro. Um livro infantil, criado por um monstro.
- Senhor, eu me sinto agora filho de um monstro, tendo em vista que muito de minha personalidade infantil foi forjada pelo livro.
- Não, Iohan deixou de ser um monstro assim que olhou o céu naquela noite e percebeu o que toda aquela dor poderia lhe mostrar. E a dor sempre quer mostrar algo Romeu, assim como essa dor do meu pé que eu agora procuro compreender. A dor mostrou para Iohan que o senhor forte que ele almejava, nunca oderia ser. Ele descobreu ser uma criança, sozinha, com medo e jogada no mundo. Ele criou o livro para si mesmo e com isso conseguiu suavizar a solidão de muitas pessoas.
- E então, por isso, o senhor acha que essa dor causada pela faca Maia significa algo?
- Talvez, quanto tempo espera viver nesse mundo Romeu? Até que tipo de morte?
- Não muito, mas não sei como morrerei.
- Eu sabia, até agora...

8/09/2007

Minha Canção - Novela parte 1

Cinza, o céu continuou acima de minha cabeça. Eu continuei a andar tentando encontrar o objeto que caira do meu bolso da frente. Os olhos fitavam o chão em um misto de angústia e anciedade pois poderiam encontrá-lo antes de mim e isso significaria que eu não o veria mais. Nesse momento, Romeu, em um ato de completa angústia, me encontrou.
- Senhor Thiago, não faça isso...
- Romeu - interrompi - a cada homem deve ser dado pelomenos a chance de escolher como ele vai morrer.
- Mas, não agora Senhor!
- Procurei, mas não encontrei em nenhum lugar da minha mente motivos que fossem bons o bastante para eu não vir até aqui e completar meu plano. O problema é que eu o perdi, não sei onde caiu...
Romeu suavizou o semblante. A peça perdida realmente era de valor alto na próxima atitude que eu pretendia tomar. Ela havia sido achada em um túmulo de uma das civilizações mais antigas da américa do sul, a Maia. A análise desse objeto e a conecção do seu significado, assim como o significado do próprio nome dessa civilização me levou ao atual patamar. Não Há porque continuar a ser uma pessoa viva, encarnada (seja lá como os espíritas e budistas costumam alegar) pois somos apenas objetos.
Romeu tentou se antecipar em nossa caminhada que nos conduzia de volta ao meu local de partida. Ele olhava para os lados, como se fosse um fugitivo enquanto eu andava devagar olhando para o chão procurando o pequeno objeto.
Nesse momento, eu me lembrei de uma das minhas mentalizações criativas que por muitos anos povoou meus sonhos. Eu sonhava com nanocriaturas criadas por mim que poderiam se vingar de todos os meus inimigos invadindo correntes sanguíneas e tirando-lhes a vida. Naturalmente seria uma morte completamente atípica e impossível de caracterizada por qualquer tipo de legista. Ao mesmo tempo, eu pensava em como essas nanocriaturas poderiam servir para destruir grandes doênças da humanidade, como o câncer, tendo a capacidade de chegar e reconhecer as células malvadas distruindo-as. Mas para que eu resolveria doenças? Estava claro que essas serviam para controlar o crescimento do vírus humano sobre a face da Terra. Observe a História dos Maias querido leitor, onde seu declíno teve início quando não conseguiram conter o tamanho de sua população, provocando inúmeros problemas de sobrevivência, organização e de alimentação. Não conseguindo manter o povo alimentado, logo vieram as pestes e, por fim os espanhois.
Maia (ou Maya) significa ilusão. Um povo perfeito, uma maquete de uma civilização que se refletiria depois no resto do mundo. Seu início, seu meio e seu fim ocorreram em tempo resumido para que tudo pudesse ser antes testado. Estamos fadados aos nossos próprios excessos. Ao crescimento desordenado da humanidade até que esse planeta não nos queira mais sobre ele e "como um cachorro que se livra das pulgas num saculejo" nos mate.
- Romeu, eu sou velho, e não sei ainda hoje o porque de eu ter vivido até a idade que tenho.
- Senhor, a morte não é a solução....
- Não procuro a morte como solução pois não tenho problemas. E nem a procuro como ideal, pois os ideais não me interessam mais. A morte é apenas a potencialização do que eu já sou: vazio.
E quando dizia em voz alta aquelas palavras, pisei em algo pontiagudo que o transpassou meu pé direito. A dor me fez cair ao chão e fitar o céu, exatamente para poder olha-lo e perceber que a sua cortina cinza que se manteve assim por 20 anos estava inexplicavelmente se abrindo...