9/11/2018

o asfalto destrói a ideia
dissolve, digere e desmembra
o asfalto percorre sublime
minha sombra que vejo com pena

os faróis iluminam tão pouco
a chuva que cai mas não refresca
os faróis - olhos cegos tropeçam
naquilo que sou: o que já não presta

eu corro o vazio, o vazio corre em mim
escalo o nada até o cume do inexistente
deito na cama sem luz, ninguém me sente
ma mato em vida, e morro descrente

se há outra vida que possa viver
rogo pra que a culpa não me seja congênita
que o medo não me ampute as pernas
 e que o ódio não traga minhas palavras blasfemicas

......
Há tantos anos eu leio meu próprio blog, meu próprio registro. Quando escrevo aqui é quando me sinto pior. Talvez como uma espécie de pedido de socorro, um exorcismo para as angústias.
Não adianta de nada. Não me torno nada melhor. Não me sinto nada aliviado.

Eu me entendo como alguém difícil. Eu lamento muito causar o mal que causo aos outros e a mim mesmo e, se eu pudesse, escolheria nem ter nascido.

Tudo parece complexo. A noite eu não encontro o sono, não durmo ou durmo muito pouco. Meu cérebro não para. Meus ouvidos berram. E eu fico escondido aqui, pequeno, em meio a essa sinfonia descordenada de várias bandas tocando músicas diferentes ao mesmo tempo.

Eu imagino muito como vou morrer. Às vezes encontro mortes plausíveis. Às vezes desejo que seja logo.





o material e o espiritual
numa cesta acima da mesa
dão luz à decoração do lar
mentem pra quem ousa olhar

sem espírito não há
quem possa conseguir mentir
sem forma, sem gosto, sem sexo
sem espírito a cesta está no mesmo lugar

em frente ao espelho da fogão
a matéria olha ao redor
sem espírito