1/18/2007

Eu tinha receio de que o universo fosse menor que eu
E resolvi decepar aparte de fora de toda a existência
Corroer com ácido estomacal o cheiro verde das consequências
Me escondendo em um universo que há muito faleceu

Eu tinha encontrado um canto escuro e quente pra esperar
O fim dos anos que eu continuava a teimar a ter
Protegendo-me do que não podia me fazer sofrer
Acompanhando-me apenas de quem poderia me surrar

Há muitos anos eu sou um ser pela metade
Há muitos anos o que eu temo é a maldita verdade
De que eu sou apenas mais um na face dessa terra

Resolvi mandar meu universo se fuder
Resolvi parar com essa merda de se esconder
E ver que sou apenas mais um na multidão que se esmera!

1/10/2007

II – A comédia

II – A comédia

Madrugada. Novamente ele acorda e observa o céu pela janela aberta que fica atrás da cabeceira de sua cama. A lua parecia tão bonita aquela hora que ele se recusava a olhar. De repente o telefone toca, o único ruído no meio de um mar de eterno silêncio. Ele reluta em levantar, está terrivelmente cansado e não consegue dormir há dias. Depois de chamadas ininterruptas o telefone para de tocar e retoma, depois de alguns segundos, o seu ato incômodo de berrar na madrugada. Ele abre os olhos de maneira enfurecida. Não sabe porque, mas começa a pensar no dia em que a mãe de seu amigo resolveu corrigir um erro bobo de português que ele havia cometido em um de seus poemas. Ele lembra de ter se sentido humilhado. Para não perder a postura deu um sorriso amarelo e disse que as coisas são assim mesmo, ele não era bom em português mas era ótimo em escrever. Mas ninguém havia dito que ele era um ótimo escritor. Então de onde ele havia retirado essa informação? Estranho, ele não chegou a nenhuma conclusão quando novamente pensou em outra derrota enquanto o telefone não parava de tocar ridiculamente àquela hora da madrugada.

Ele lembrou-se daquele dia em que chegou no trabalho e um funcionário mais antigo, mas que não ocupava uma posição hierárquica mais alta que ele o olhou com um ar de superioridade e de desprezo e disse:

— Você não sente vergonha de ser dessa forma? Não sei, mas se veste e se comporta de maneiras não muito normais. Veja só a sua sala, está suja e desarrumada e você não faz nada pra mudar isso! Você esqueceu qual é a sua função aqui dentro? Não sei se você já notou, mas todos já foram reclamar de você para o chefe, todos falam mal de você pelas costas, comentam a sua má vontade e seu modo ridículo de só dar importância a suas próprias coisas. Coloque-se no seu lugar. Vista-se direito e tenha mais boa vontade. Não vê que o que faz é nada mais que merda nenhuma?

Ele já havia se esquecido que as pessoas podiam interferir tanto em sua vida. Lembrou-se que seus olhos se encheram d’água (motivo que foi usado pelo seu “amigo” semanas mais tarde para mais um pacote de humilhações). Seu estômago doía enquanto ouvia aquelas palavras. Até aquele dia ele se considerava uma pessoa de boa vontade e não media esforços para ajudar qualquer um, até fora do seu horário de trabalho e com coisas que não lhe diziam respeito desde que essas coisas não atrapalhassem o seu modo de viver a vida. Até aquele dia ele se julgava um bom funcionário, mas ninguém havia dito isso a ele. Essa era uma conclusão solitária e silenciosa.

Finalmente o telefone havia parado de tocar, acho que haviam se cansado de tentar. E se fosse algo importante? Ele não queria saber. Talvez fosse mais uma das pessoas com quem era obrigado a conviver tentando dizer que ele era uma pessoa miserável que não faz nada direito.

Finalmente notou que uma pequena lágrima descia por sua face, uma lágrima fria que parecia estar tentando se desprender por horas das pálpebras entreabertas. Ela escorreu diminuindo gradativamente de tamanho e parou no queixo, de onde resolveu pingar até o travesseiro. Simplesmente ele a deixou ir embora para o perfeito mundo dos travesseiros sem nem dizer adeus. Todos pareciam querer ir para longe e ele nem era avisado. Seria isso dramático demais? –pensou ele – Talvez sim... sempre fui o drama em pessoa.

Observou uma nuvem que agora passava lentamente sobre a imagem da lua. Esqueceu por milésimos de segundo toda a angústia que estava sentindo. Talvez algumas pessoas nascem para serem assim, simplesmente sacos de pancada da vida e o que mais amava estava morrendo: seus sonhos. Quem mais lhe confortava estava partindo: sua família. O sentido de sua vida parecia extremamente distorcido. Ele pensou pela milésima vez em suicídio, mas descartou a idéia simplesmente por estar cansado demais para levantar da cama.


CONTINUAÇÃO____________________________________________________

Então ele ouviu novamente o que achou que não teria que ouvir mais naquela noite: o toque do telefone, alto, frio e impiedoso. Algo tão irritante que ele, mesmo mergulhado em sua profunda tristeza e auto-piedade resolveu levantar-se finalmente para atender. Estranhou profundamente o fato de não conseguir mexer os dedos dos pés como costumava fazer segundos antes de se levantar. E esse sentimento estranho foi aumentando de maneira rápida quando percebeu que suas pernas e braços também estavam imóveis. Não conseguia esbugalhar os olhos quando começou a sentir o pânico e começou a se perguntar, com os gritos do telefone como trilha sonora, o que havia acontecido.

Meu Deus, o que havia acontecido com ele? Tudo bem que as doenças sempre estiveram presente em sua vida, mas não daquela forma. O dia estava começando a chegar e o telefone não parava de tocar incessantemente. Ele queria gritar, mas sua boca estava muda, nada acontecia quando tentava inflar os pulmões.

Ouviu batidas fortes em sua porta e pessoas gritando o seu nome lhe ordenando que abrisse. Ele o teria feito se conseguisse, mas não estava em condições. Morava em um prédio, o que impossibilitava que as pessoas o vissem ali imobilizado pela janela.

Queria chamar sua mãe, mas ela não morava mais em sua cidade. Queria gritar por sua namorada que sempre estivera do seu lado, mas ela resolvera ir para longe também. Estava realmente sozinho em sua cama de casal, acompanhado apenas de cartelas e vidros de remédio abertos e espalhados ao seu lado. Passara a noite em uma companhia diferente, que dormira de seu lado e dentro dele.

Agora estava se lembrando, a vida parecia uma comédia, engraçada até demais depois de alguns copos de vinho doce. Tão engraçada que ele resolveu contar uma piada: tomou todos os comprimidos que conseguiu e deitou-se olhando a lua pela janela. Ele havia tentado se livrar de seu fardo, o título que costumava dar a sua vida.

Agora ele entendia o porque de sua imobilidade. Simplesmente ele havia matado seu corpo. Estava morto na cama.

Do outro lado do telefone que tocava sem parar estava um velho amigo de infância que esteve preocupado com os últimos comentários dele e resolvera ligar pra saber se estava tudo bem e se ele queria uma companhia. Afinal, alguém se importava com ele. Tomado por uma profunda preocupação, seu amigo, que morava do outro lado da cidade, acordou todos os conhecidos que moravam mais próximo e pediu para que fossem investigar o que estava acontecendo. Eram eles que batiam a porta.

Finalmente, eles entraram. Ele viu tudo, deitado e morto de onde estava. Viu seu amigo chegar e chorar com as mãos no rosto parecendo desesperado. Via sua mãe chorar até quase desmaiar dizendo que não deveria ter abandonado o seu único filho.Culpando-se por algo que não tinha culpa. Viu sua namorada, respirando aliviada por ter saído daquela relação com um “louco”, pois, de acordo com ela, todos aqueles que acabam com a própria vida são loucos. Por fim, viu a si mesmo sentado em um bar com um copo de cerveja na mão e rindo, rindo sem parar com seus amigos, de coisas que não tinham a mínima graça. Viu-se correndo de bicicleta na chuva fria do inverno enquanto voltava de sua faculdade, tentando se molhar o mínimo possível, mas sem se tocar que não havia uma única parte de seu corpo que estava cheia da água que vinha do céu. Viu-se escrevendo um texto enquanto ouvia Damien Rice, algo sobre a sua vida, algo cheio de erros de português e de concordância, mas que era cheio de alma e tinha realmente um pedaço dele mesmo. Viu as crianças que corriam na rua e riam dele sem mesmo saber porque enquanto ele ria de volta maravilhado com a graça dessas pequenas criaturas. E por fim, viu-se chorando de alegria, quando finalmente percebeu que a vida era cheia de altos e baixos, realmente uma comédia estrelada por nós mesmos e quem escreve o fim de cada uma de nossas vidas somos nós.

Ele foi lembrado por décadas quando seus textos foram encontrados, e por séculos quando estes se transformaram em livros, e pra sempre, quando finalmente conseguiu o que queria: simplesmente viver em sua arte.

1/02/2007

I – Lúcia e o céu de diamantes

Certa manhã Lúcia acordou completamente disposta. Parecia haver algo a colocá-la pra cima, alguma razão que lhe era desconhecida até então. Na verdade, ainda era curto o tempo em que estava acordada, uma questão de segundos. Observou o teto e tentou se lembrar vasculhando os acontecimentos do dia anterior para conseguir se localizar diante de seu sentimento ainda inexplicado. Nunca havia reparado que o teto logo acima de sua cama era meio irregular e isso fazia com que se formassem pequenas sombras, que foram conquistando a atenção de Lúcia, onde ela conseguia identificar algumas figuras pouco comuns para um teto. Viu um homem com a garganta fina demais para o tamanho de sua cabeça, de olhos fechados e boca ligeiramente aberta. Viu uma carruagem simplória e também uma sombra que a lembrava o seu pai. Não era na verdade o rosto dele, mas sim, uma forma abstrata que a fazia se sentir bem, confortável e feliz.
Alguns minutos haviam se passado e Lúcia ainda não tinha saído da cama enquanto contemplava o teto e acariciava sua barriga por baixo da roupa e dos lençóis. Lentamente levantou-se e notou que não estava em seu quarto normal, e sim em um lugar que tinha uma disposição física muito parecida, mas com móveis totalmente diferentes. As cortinas das janelas estavam com estranhos bordados demasiadamente complexos e o barulho dos carros não invadia seus pensamentos. Olhou seu relógio de pulso e notou que não estava lá, como também que a marca deixada no braço pelo relógio não mais existia.
— Será que estive em coma? - pensou consigo mesma.
Os pensamentos e as hipóteses percorriam seu cérebro rapidamente e ela teve um medo absurdo de descer as escadas e encontrar tudo diferente. Então ela decidiu procurar um espelho. Levantou-se e correu para o único armário que havia agora no quarto. Abriu a primeira porta e encontrou nada mais nada menos que suas roupas normais dobradas em uma caixa de vidro. Havia algo escrito em um bilhete que estava dentro da caixa, mas ela não conseguia ler. Notou apenas que era a sua própria letra em um papel apagado pelo tempo. Aquele era seu vestido preferido dentro da caixa e com certeza ela teria que se vestir para sair do quarto, para saber o que havia acontecido durante a sua noite de sono. Ela pegou a caixa, que parecia não ser aberta há muito tempo, e retirou de dentro um vestido preto e informal, com pequenas flores em lilás e um decote simples e pequeno. Notou que o vestido estava com uma textura muito diferente da normal e percebeu que ele estava velho. Parecia ter décadas!
Lúcia encontrava-se agora sentada totalmente absorta na beira da cama com o vestido em sua mão esquerda, a mesma que não tinha mais o anel de casamento.
Olhou para ela própria e notou que em seu antebraço, onde havia tatuado o nome de sua filha, Angélica, agora podia-se ler seu próprio nome, Lúcia.
A fome começava a aparecer e ela não sabia mais o que pensar quando finalmente encontrou o espelho lhe contaria o que estava acontecendo.
Olhou-se. Seus dedos tocaram levemente os lábios como sinal de espanto. Seus olhos negros, agora verdes, contavam coisas que ela não poderia nunca em sua sã consciência conceber. Lúcia havia rejuvenescido pelo menos trinta anos em uma única noite de sono. Havia mudado a mobília e a disposição do quarto, colocado cortinas estranhas nas janelas e aparentemente reformado as paredes, principalmente o teto. O mais intrigante era a tatuagem que havia mudado e agora a cor de seus olhos. Lúcia se manteve calada até o momento de pronunciar um “ai meu deus”. Incrivelmente percebeu que sua voz não era mais a mesma, estava bem mais aguda e suave e trazia uma espécie de paz que ela não sabia explicar exatamente.
Por alguns momentos Lúcia pensou que talvez a sua forma antiga nunca tivesse existido, era tudo fruto de um sonho que havia tido durante a noite, quando finalmente encontrou em cima do criado mudo que estava ao lado da cama um livro, uma biografia. O livro chamava-se “Lúcia e o céu de diamantes” e tinha como autora ela mesma! Ela não se lembrava de ter escrito um livro. Foi passando as páginas até encontrar a única foto da autora na parte de dentro da contra-capa. Nessa foto, ela se via exatamente como estava imaginado que era antes de se olhar no espelho. Até a tatuagem estava lá, da maneira certa. Nessa foto, ela aparecia da cintura pra cima e foi quando percebeu que não se lembrava de como eram os seus antigos pés. Olhava fixamente para eles e não sabia dizer se estes eram iguais ou diferentes dos anteriores.
O medo já tomava conta dela por completo quando ela resolveu continuar lendo o livro de onde estava marcado:

“Nas horas mais pesadas de minha vida eu me imaginava como outra mulher, alguém bem mais jovem do que eu, que conseguiria enfrentar esses problemas sem cair nas lágrimas e nas fraquezas que me atormentavam. De olhos verdes e cabelos lisos eu caminhava com passos cada vez mais firmes sobre a terra espinhenta que me servia de país e não abaixava a cabeça pra nada. Me chamava de Patrícia e essa personagem se tornava tão real que em meus sonhos, que sempre começavam com um olhar perdido para o teto pintado de branco em cima da minha cama. Eu conseguia me ver em mundos completamente diferentes. Eu era duas, sendo apenas uma...”

O que dizer dessa passagem? O personagem que ela mesma criara tinha finalmente se tornado realidade ou Lúcia estava presa em mais um desses sonhos.
Nesse momento Lúcia ouve passos na escada e uma mulher abre a porta. Uma face muito conhecida a observa e a deixa cada vez mais intrigada, principalmente depois de ter percebido que em seu braço havia também uma tatuagem, e nessa estava escrito Patrícia.
— Bom dia minha filha – disse a mulher – você dormiu bem?
— Sim, mas, quem é você e o que eu estou fazendo aqui?
— Calma, tenho certeza que tudo será explicado, minha filha.
— Pare de me chamar de “minha filha”! Não sou sua filha. Minha mãe chamava-se Darcy e já é falecida.
— Darcy foi minha querida avó que agora está no céu e você não é Lúcia...
— O quê?
A mulher recuou um pouco e pegou um álbum de fotografias que parecia estar ali por algum motivo ainda não entendido por Lúcia.
— Meu nome é Angélica – disse a mulher.
— Angélica é o nome de minha...
— Você é que é minha filha Patrícia.
Lúcia não sabia mais o que fazer, aquela mulher que estava lhe chamando de Patrícia (o nome fictício que havia inventado alguns anos antes) dizia ser Angélica, sua filha. Ela havia aberto um grande álbum de fotografias onde apareciam Lúcia, Angélica (mais velha do que o que ela podia se lembrar) e uma pequena menina que a mulher disse ser ela mesma, ou seja, Patrícia.
Mas como isso poderia acontecer? Lúcia pensava estar em um sonho, algo como um hipnotismo do qual não conseguia se livrar. A foto provavelmente era fruto dessa sua alucinação. Mas como explicar a figura de Angélica mais envelhecida, agora parecendo uma mulher, se na verdade ela era adolescente?
Então, depois de alguns minutos concentradas na fotografia, Angélica quebra o silêncio:
— Você se lembra de Guilherme?
— Sim, eu me lembro, aquele seu namorado do qual eu nunca gostei...
— Pois é, eu me casei com ele e tive uma filha que resolvi chamar de Patrícia em homenagem a minha mãe, que se comoveu e perdoou a nossa união antes não abençoada. Se você é Lúcia, se você realmente é minha mãe, deve se lembrar desse dia.
— Não, não me lembro.
— Por anos, nossa família adotou o costume de tatuar no antebraço o nome de uma mulher da família a quem nós admirássemos, e eu escolhi tatuar o nome de minha única filha e ao mesmo tempo, o segundo nome de minha mãe.
Lúcia ia ficando cada vez mais boquiaberta com toda aquela situação.
— Você, minha filha, resolveu tatuar no seu antebraço o nome da mulher que você sempre admirou, mas que não teve a oportunidade de conhecer direito, pois ela morreu quando você tinha apenas dois anos. Você é e não é ao mesmo tempo Lúcia, mas não a que me deu a luz, não a que lhe deu essa fita que está pendurada em sua cama para amarrar os cabelos. Você é Patrícia, minha filha, neta de Lúcia, minha mãe. Ela escreveu esse livro pra você, contando sua vida, e você sempre o lê. A ligação entre vocês duas enquanto ela esteve viva era muito forte e nós não podíamos entender. Nunca consegui explicar a sua descrição que era exatamente a que minha mãe, Lúcia, usava para falar de sua personagem. Esse foi mais um dos motivos de termos adotado seu nome. Gostamos de acreditar que minha mãe, que sempre teve um lado meio diferente, pôde prever como você era.
Nesse momento, Lúcia (ou melhor, Patrícia) sentia-se como duas mulheres ao mesmo tempo. Seria ela um elo entre o passado e o presente através da mente de sua avó? Seriam Lúcia e Patrícia a mesma pessoa com corpos diferentes.
Angélica então resolve continuar:
— Você sempre disse que havia lido em um livro que almas gêmeas eram na verdade a mesma alma que em determinado momento eram divididas em várias outras almas e espalhados pelo mundo em corpos diferentes que tenderiam a se encontrar. Acho que você e minha mãe eram almas gêmeas.
— Mas...
— Desculpe Patrícia, mas há mais uma coisa que você precisa saber. Todos os dias, minha filha, você acorda achando que é a minha mãe e eu tenho que convencer você a ser Patrícia. Você nunca se lembra, mas é assim. Por isso que o álbum de fotografias está sempre aqui do meu lado, para lhe provar todos os dias que vocês podem ser almas gêmeas, mas são pessoas diferentes.
E então, a agora conformada Patrícia levanta-se e vai até a janela, puxa a cortina bordada e observa pelo vidro que a cidade lá fora já não existia mais. Os carros e as pessoas haviam dado lugar a árvores e campos verdes e ela sentiu-se em paz. Sentiu-se tão confortável que podia dizer que era duas e que pra sempre seria feliz com aquela repetição diária. Ela sempre amou a sua avó que nunca pode conhecer direito ou que sempre conheceu, antes mesmo de nascer.
O sol iluminava o rosto jovem que deveria estar velho, se ela realmente fosse quem achava ser no princípio. Ela sentia o sol e sentia o chão frio sob seus pés e imaginava o tamanho do universo e também a quantidade de vezes em que sua alma havia se dividido desde sua criação.
Fechou os olhos e imaginou as estrelas que brilhariam à noite e pôde perceber que esta noite não era a de hoje e nem a de amanhã. Percebeu pelos diamantes que piscavam no firmamento que haviam se passado muitas centenas de anos e que ela estava ali, como Lúcia, como Patrícia, como Sofia, como Angelina, como Júlia...