9/27/2007

Cap 2

Canavieiras, lá na Bahia. Ficava bem distante da sua casa e além do que pudesse parecer, ela havia ido sim àquela cidade para sofrer e não para desfrutar de suas belezas naturais construídas pelos portuguêses que haviam se instalado ali por volta do séc. XVIII. Havia em um último ato de auto-piedade ido até lá de avião e não de ônibus, mas quando chegou à cidade, sem nada saber, nem seu nível de criminalidade, nem o tamanho dos bairros ou quanto tempo teria que andar para chegar da casa onde ficaria hospedada até uma padaria para poder tomar o seu café duas vezes por dia, pelo menos.
A idéia de ter que se locomover através da cidade por linhas de ônibus a deixava totalmente insegura, não conhecia seus destinos e na verdade, não sabia o seu próprio destino. Pensando dessa forma seria então bem fácil se locomover dentro de Canavieiras. Era só pegar um ônibus qualquer e descer em um ponto qualquer. Ela estaria indo pra algum lugar que na verdade, nem imaginava onde poderia ser. A idéia de total desconhecimento à tomou pelo braço e a fez cambalear e procurar rapidamente por um lugar para sentar. Hvia em seu bolso, o valor para voltar de avião para a sua cidade no próximo vôo, que demoraria cerca de 4h. Mas essas quatro horas de espera já a deixavam anciosa e ela não queria ter que imaginar que ficaria essas quatro horas em um aeroporto, longe, muito longe de seu castelo imbatível com seus pais como guardas e cavalheiros que nunca a deixariam ser atingida por nada nem ninguém.
Resolveu fazer o seguinte, sentou-se e parou para imaginar o que poderia estar acontecendo, que seu corpo estava funcionado e que sua mente estava funcionando, ela estava viva. Suas pernas e braços estavam perfeitos, ela também podia falar, ou seja, a locomoção e a comunicação estavam ainda de pé. Suas dores de êstômago podeiam ser curadas por doses costumeiras de analgésicos e anti-espasmódicos. Tudo o que ela precisava estava ali com ela. Fixou a visão em um parafuso da cadeira onde estava sentada e começou a tentar a esquecer o mundo lá fora. Só importavam ela e o parafuso. Ela foi percebendo que todos os fantasmas que estavam encomodando não podeiam mais falar pois ela havia estabelecido um diálogo, ela só falaria com o parafuso. Ohou seu brilho, sua fenda, ima ginou o contato que deveria estar tendo com o material logo abaixo dele, o qual estava parafusado. Imaginou sua temperatura, sua cor, sua dureza. Viu que sua dor estava passando. Ela começou a conhecer bem àquele parafuso e se tornou completamente amiga dele. Eles já eram tão íntimos que ela pensou: "ei parafuso, se eu passar mal aqui, você vai me ajudar não vai?" E como resposta do parafuso, ela imaginou: "claro, afinald e contas, amigos são pra essas coisas."

9/20/2007







"a cada minuto que passa há uma chance de virar a mesa."
-vanilla sky

"o que eu quero, eu vou conseguir"
-raul seixas

"nothing can stop me now, cause i don´t care anymore"
-trent reznor

9/19/2007



DIÁRIO

Segunda vez, espero que não se torne uma constante. Hoje estou pensando em me "desligar" mais do que o normal. Há muito tempo não penso com tanta frequencia. Fico me perguntando se será assim o meu fim, algo escolhido por mim mesmo.

Na verdade, não há como explicar os motivos pois nem eu sei, nem eu me entendo. Talvez o problema seja apenas o existir.

Quem nunca imaginou sua própria morte? Quem nunca pensou nela como alívio? Pois bem, não sou mais um adolescente cheio de hormônios, há peso em minhas palavras. Eu queria poder controlar o que eu tenho sentido, essa luz e sombra. Tão mais complexa é a verdade que se esconde.

Mas aguardo pacientemente esse período passar. Pedindo desculpas àquelas que me rodeiam e que não me entendem, eu sou assim, um ponto de interrogação com duas pernas, dois braços e um coração.

Que assim seja, em nome da grande mãe.

9/18/2007







Será que eu sempre me importo demais com o sentido das coisas, não deixando estes (os sentidos) correrem livremente e mostrarem o seu maravilhoso e simétrico resultado no final?
Será que eu me ancorei em sentidos que de nada vão funcionar e por isso estou em um cíclico moddo de pensar/agir que nunca sai do lugar?
Será que sou fraco o bastante para não tomar as respectivas atitudes que poderão virar a mesa da minha vida a qualquer momento?
Será que algum dia desses, de sol ou de chuva, meus sonhos serão realizados?
Será que todos morrem tendo ao menos um sonho que possa ter sido vivido, nem que por segundos?
Será que minha cabeça está mais nas nuvens do que meus pés no chão?
Será que o universo conspira contra ou a favor de tudo o que eu quero?
Será que eu sei o que eu quero?
Acordar e não saber qual será o próximo passo é na verdade uma das coisas mais dolorosas que podem acontecer a um ser humano. Muitos aposentados morrem por isso, porque durante a vida toda sabia que ao acordar, aquele era o passo a ser dado. Se acostumaram em nunca ter que pensar e procurar muito pelo sentido da vida até que as únicas coisas que lhes restam são as perguntas, os questionamentos que eu mefaço agora. Eles preferem morrer, seus corpos se apagam como uma gota de chuva que cai no oceano e se mistura a sua infinidade. Tudo vai para um mesmo lugar.
Quero dizer que não sei qual será meu próximo passo, e que ainda não estou pronto para dar um mergulho, então, vivo em dois mundos.

Viva, foda-se o que é que tenha que ser vivido.

9/12/2007

Cap 1

Ela despertou. Não estava em sua cama como de costume. Os primeiros segundos logo antes de abrir os olhos lhe pregaram uma peça fazendo com que ela imaginasse estar segura, dentro de seu apartamento onde morava sozinha no interior do Rio de Janeiro. Não, ela estava agora muito longe de casa, e mesmo que precisasse de seu paz, de seu canto, ela precisaria viajar pelomenos três dias de ônibus para poder chegar à sua casa.
O fato de acordar em um lugar praticamente desconhecido a fez se encher de um repentino medo. Nada daquele quarto na verdade a amedrontava, somente a idéia de estar distante e incomunicável de todos os que conhecia e de não poder se sentir a vontade pois estava como hóspede de um casal de velhos.
Pagara uma diária extremamente baixa para poder passar ali a noite e guardar sua bagagem durante o dia, mas ela não tinha nenhum tipo de privacidade, ficando a mercê dos costumes e manias daquelas duas pessoas que poderiam ser seus avós.
Ela se levantou taquicárdica e lembrou-se do que estava fazendo ali: estava tentado dominar o medo que sentia dentro de si. Havia se entipido de remédios faziam os sintomas desaparecer mas que não tratavam a causa. Havia pariticipado de aulas de meditação e todo um contexto de reeducação espiritual e tudo isso lhe tratava sim a causa do medo, mas eram na verdade métodos que agiam de forma homeopática e em fases agudas da doença ela se sentia pior que nunca. Sabia no entanto que a somatização de tantos problemas era algo desnecessário. Tinha 18 anos. Seu corpo sempre havia funcionado de forma perfeita. Ela podeia proveitar a juventude e correr o mundo pois seus pais possuiam uma boa estabilidade financeira. Mas tudo o que ela queria era ficar ali, enterrada em sua própria cama, temendo o próximo passo, deixando as horas passarem.
Decidiu repentinamente, em meio a uma fase aguda da doença (chamada medo) em forçar-se contra todo o que poderia lhe causar mal. Jogar-se de frente sobre as pontiagudas e ameaçadoras potencialidades do mal que a acometia.
Numa manhã, mais fria do que essa que ela estava agora, ela resolveu juntar poucas roupas em uma mochila, tomou um rápodo café, avisou aos pais que viajaria e eles, sem entender, ficaram preocupados. Porém, antes de fazer qualquer pergunta sobre essa tal viagem, ela já havia saído pela porta da frente. Ligaram rapidamente para o seu ceular:
- Alô...
- Garota, não entendemos nada, onde você está indo?
- Pai, estou indo lutar contra o meu medo, tenho que vender essa força que me comanda ou ficarei escrava dela pelo resto da vida.
- Mas filha, de repente assim.
- Pai, estou levando uma contidade de dinheiro que dará para aviagem que vou fazer, não se preocupem, eu ficarei bem.
- Mas, Júlia...
Ela havia desligado o celular e logo em seguida jogou-o em uma lixeira próxima. Havia levado sim uma quantidade de dinheiro significante, mas não para uma viagem como aquela. Ela sabia que provavelmente teria que se virar, mas era isso mesmo que ela queria provar, que ela era perfeita, cheia de capacidades e de beleza e que poderia amar o mundo assim como todas as outras pessoas o fazem, sem precisar programar cada passo a ser dado com cautela. Ela estava livre e morria de medo, mas mesmo assim ela continuava.
Na casa dos velhos, já um pouco distante de seu lar, não submetida a nenhum conforto, ela havia passado a primeira noite da sua vida em que não estava completamente segura de tudo o que a rodeava, de tudo o que iria acontecer. Pensou em voltar atrás inúmeras vezes, mas sabia que se fizesse isso, perderia completamente o respeito por ela mesma. Levantou-se morrendo de cólicas e dores no estômago (sinais de como o medo poderia se manifestar nela) e foi até a janela olhar para um lugar diferente, olhar para a sua nova casa, o mundo.

9/06/2007

Mokasjnasjd

Pela primeira vez eu uso um blog como um diário. Deve ser, pelomenos interessante para as que poderão ter acesso à isso. Obviamente, terei o cuidado de revelar apenas o que todos podem saber. Seria isso interessante? Não sei. Talvez eu me sentisse empolgado em ler o diário de uma pessoa, talvez alguém de quem eu gostasse ou de um total desconhecido. Sou muito fascinado por saber como diferentes pessoas encaram a vida. Ao que me paraece, algumas vivem dia após dia sem se importar muito com tudo o que lhes acontece. Essas, geralmente são as pessoas que não tem muitas opções e já se acostumaram em aceitar calado. Não sonham, não se visualisam no futuro, apenas vivem, tarefa após tarefa, dorme, acorda, come, trabalha... Existem também as pessoas que sempre estão em busca de diversão sem se importar também muito com o futuro. Elas se utilizam geralmente das sensações boas causadas por diferentes formas de "curtir a vida". Mas, geralmente a vida não pode ser somente curtida e o período dessas pessoas de viverem como mais gostam acaba. Geralmente, essas se tornam como no primeiro caso. Existem as pessoas que acham que viver é sofrer. Essas procuram religiões com cógigos e leis rígidas para seguir ou simplesmente se doam de corpo, de carne mesmo, ao trabalho pesado e braçal. Acham que curtir a vida é pecaminoso e vergonhoso, que conseguir coisas boas não é permitido e devem permanecer na dor pra sempre. Existem as pessoas que não conseguem ver nada além de seus objetivos. Elas respiram, dormem, comem, fazem sexo, tomam banho, sempre se projetando de acordo com seus objetivos. Elas esquecem a suavidade de viver feliz, não percebem pequenos detalhes que ocorrem nos dias em que vivem e acabm sendo, extiormente, mais frias. Eu sou um pouco deste tipo, um pouco "cego". Existem também as pessoas que sonham com o futuro, que sonham em ser de uma determinada forma que não são, de conseguir contemplar a vida de uma maneira muito superior, e sonham que isso será conseguido logo adiante, dali à poucos anos. Não vivem o presente, somente o futuro e por isso, não constroem nunca a base para se viver literalmente o dia que projetam. O foturo nunca se torna presente. Sim, eu sou assim também.

É impressionante dizer que só a algum tempo é que percebi que a vida não é necessariamente justa. Muitas coisas acontecem por que simplesmente devem ocorrer. Isso me fez cair de minha realidade mística e conhecer o chão, duro, áspero, mas verdadeiro. Eu sempre achei que se eu conseguisse merecer eu obviamente teria tudo àquilo pelo que lutei. Estudei canto, composição, pesquisei música a fundo, li os poetas mais geniais para me sentir inspirado e absorver estilo, método e noção do que seria bom. Fiz tudo isso e além disso, procurei ser sempre uma pessoa boa. Interessantemente, minha vida é muito boa, mas não tem exatamente tempero que eu esparava que tivesse. Talvez a busca por tudo isso seja o verdadeiro sentido da minha vida. Uma busca sem nunca encontrar... Eu vivo essa paixão, ela é muito forte e eu não consego, por mais que eu tente, me livrar dela. Há épocas em que eu consigo controlá-la melhor, mas, nesses períodos sou também acometido de tristeza.

O mundo não é justo, pelomenos eu não sinto justiça. Mas é assim que deve ser. Eu me sinto cada dia mais forte e mais certo, e não paro.

A verdade sobre a falta de justiça me veio ao ver uma foto, tirada por um fotógrafo que ganhou prêmios com ela e se tornou famoso, mas que se suicidou meses depois de tirá-la. Na foto, uma menina, tão desnutrida e fraca que não consegue se levantar, agaixada com a cabeça entre os joelhos e ao fundo, um abutre, esperando o momento certo de sua morte para poder lhe devorar a pouca carne que havia em seu esqueleto. Aquela menina e eu temos os mesmos direitos, as mesmas capacidades, nascemos do mesmo jeito, no mesmo mundo. Esse mesmo mundo onde existem pessoas que estão cercadas pela beleza que apenas vivem, dia após dia suas vidas, o mesmo mundo de pessoas que se agarram a dor, de pessoas que são frias e de pessoas que só sabem sonhar.

Eu continuo ainda hoje a tentar, a batalhar com a minha arte e tentar, conseguir transforma-la em algo grande, maior que eu. Continuo porque é minha razão de vida não é só uma escolha ou um desejo passageiro. Por que se eu pudesse, eu jogaria tudo isso fora e tentaria viver sem querer pensar muito, dosando um pouco de cada tipo de pessoa.

Já pensei em tudo, em ir embora daqui pra outra cidade maior, em ir para outro país, em parar de viver, em viver sozinho e isolado. Nada disso funcionaria e eu acho que é porque a minha vida deve precisar ser uma grande tentativa.

Eu resolvi tentar me aproximar um pouco das outras pessoas, tentar ser normal, um pouco mais animal sem racionalidade. Instinto! Vamos ver até onde eu consigo viver assim.

9/01/2007

Sim, essa é a verdade que esperava
Escorrendo pela fronte de quem não vê
a verdadeira síntese das engrenagens

Há carne e vísceras que pendem
De cabides fantasmagóricos
Quem é a âncora da minha alma?

Nós, que por pouco não cortamos os pulsos
Engrenamos dia a dia em uma espiral
De erros e dores, luxúria e rancor!
Corroendo as perspectivas e chamando-nos de filhos

Expulsa essa razão de meu crânio
Vai embora, entendimento!!!
Não constrói em minha cabeça mais um túmulo
Para que eu enterre meus sonhos impossíveis!!

Ah, quão ambígua pode ser a existência
Viver amando a morte e morrer, sem nada saber sobre a vida
Cuspir naquele que deveria amar
Amar aquele que deveria repudiar

E com os olhos marejados de um líquido que
Não é lágrima e não é suor, escrevo essas, como últimas
As palavras que pronuciarei.

Ah sonata tão breve
Ah corpo tão triste

Ah, alma! De que elemento você é feita?
De onde nasceu, porque nunca morreu?

Destina meu sofrimento a encarar a miséria de viver.


(poema dedicado àqueles que lutam sem saber porque, e aqueles que sabem o porque, mas não lutam, aguardando a morte)