8/16/2007

Minha Canção - Novela parte 2

"Ele contemplava o céu após ter feito aquilo que suas veias o mandavam. Havia sangue dentro e fora de sua pele, do seu corpo. Estava completamente vestido de preto e tentava ostentar uma imagem de alguém muito superior ao que realmente se escondia sob uma casca indefinida. Pessoas ouviram os gritos que viravam a esquina e correram em um misto de prazer, curiosidade e medo. E ele se mantinha parado, olhando o céu que já estava cinza, tentando impedir que alguma lágrima escorresse dos olhos.
- Meu deus! - finalmente os olhos impacientes da multidão conseguiram encontrar a origem dos gritos. - O que aconteceu aqui?
As perguntas, o desespero, a carne completamente deformada aos seus pés. Iohan havia esfaqueado dezenas de vezes o corpo do homosexual que não lhe deixava em paz. Andava armado pois fazia parte de uma seita satãnica que proporcionava essa atitude. As roupas pretas, um pentagrama invertido, a cabeça raspada mesmo com o ríspido frio invernal de seu país. Ele queria ser homem, muito mais do que aparentava. Agora, já não sabia o que era, monstro ou criança."
- Senhor Thiago, o que aconteceu? - perguntou em meio ao susto causado pela minha queda.
- Romeu, acabei de pisar em algo que me transpassou o pé!
Haviam muitas coisas que eu não conseguia entender naquele momento. O céu se abrindo, mostrando as estrelas que há muito não ficavam expostas, o sonho da noite anterior, onde eu estava na Europa, a visão de uma menina vestida de preto e branco sendo atropelada por mim e a história de Iohan que não me saía da cabeça desde que havia tomado a decisão de me matar. Preferi não contar à Romeu nada disso, pois sua mente cética não conseguiria conceber tais fatos. Fitei novamente o céu e verifiquei que ele continuava fechado como antes: uma expessa camada de gases que impedia que o sol causasse o câncer (o grande regulador da quantidade de vida na Terra).
Romeu me ajudou a ficar de pé, e me arrastou até um banco onde ue pude constatar que havia encontrado meu objeto Maia. Ele havia transpassado meu pé.
Finalmente quebrei o silêncio:
- Romeu, você conhece o livro "Andando em Carrosséis"?
- Sim senhor, minha mãe leu pra mim quando era criança, é uma livro infantil muito famoso.
- Você sabe porque seu autor não é divulgado?
- Não senhor.
- Seu nome era Iohan, nunca conheci seu sobrenome. Em uma noite, assassinou brutalmente um homossexual que lhe tentou beijar. Foi preso e condenado a prisão perpétua pelo crime bárbaro cometido. Dentro da prisão, contam que ele ficava muito tempo do seu dia sentado em um canto da cela escrevendo anotações que ele dizia que eram seu diário. Quando se enforcou, depois de ser estuprado, suas anotações foram lidas e convertidas nesse livro. Um livro infantil, criado por um monstro.
- Senhor, eu me sinto agora filho de um monstro, tendo em vista que muito de minha personalidade infantil foi forjada pelo livro.
- Não, Iohan deixou de ser um monstro assim que olhou o céu naquela noite e percebeu o que toda aquela dor poderia lhe mostrar. E a dor sempre quer mostrar algo Romeu, assim como essa dor do meu pé que eu agora procuro compreender. A dor mostrou para Iohan que o senhor forte que ele almejava, nunca oderia ser. Ele descobreu ser uma criança, sozinha, com medo e jogada no mundo. Ele criou o livro para si mesmo e com isso conseguiu suavizar a solidão de muitas pessoas.
- E então, por isso, o senhor acha que essa dor causada pela faca Maia significa algo?
- Talvez, quanto tempo espera viver nesse mundo Romeu? Até que tipo de morte?
- Não muito, mas não sei como morrerei.
- Eu sabia, até agora...

Um comentário:

Anônimo disse...

escritores infantis monstros? Isso me lembrou Monteiro Lobato que, segundo dizem , era preconceituoso e tinha idéias fascistas. Vai saber....


Vou buscar a pipoca e já volto.