12/26/2007

A estória de minha própria loucura parte 1 - não sei até quando escreverei pra ninguém ler

Havia um mundo a ser conhecido dentro de sua própria mente. Uma realidade completamente livre de algemas impostas por irregularidades mentais, manias e pseudo-esquisofrenias. Levantou-se a caminhou até a porta do seu quarto. Lá estava pendurado o sino azul que usava toda vez que tinha que sair ao campo pra um lugar onde acha que poderia não conseguir encontrar o caminho de volta. Como sua casa era situada em um local completamente distante da cidade, em meio às montanhas, ele temia se ver perdido na floresta próxima de sua casa.
Bem, pelas suas contas, hoje era sábado. Era uma bela manhã e tudo estava perfeito pois ele havia preparado seu pão e seu chá gelado na noite anterior. Com o sino azul na mão esquerda, ele caminhou com suas sandálias baixas para a cozinha de sua modesta casa, seu refúgio de alguns mundos externos com os quais ele não conseguia nunca lidar. Abriu a geladeira velha e de lá retirou seu chá gelado (chá mate com pitadas de limão) e colocou-o em um copo de plástico amarelo que estava em cima da mesa. Abriu o guarda-pão e retitou uma fatia com uma faca de cabo queimado. Hoje era um dia perfeito pra colher as amoras e pra conhecer um pouco mais da floresta que se estendia diante de sua residência. Mastigou o pão devagar e tomava pequenos goles do chá enquanto contemplava meio que absorto a porta aberta que dava para o lado de fora da casa. O sino azul sobre a mesa aguardava seu ritual matinal terminar.
Levantou-se da mesa e escovou os dentes, colocou uma música e fechou-se no banheiro. Ajoelhou-se no chão e olhou pra suas próprias pernas numa tentativa absurda e esquisita de se encontrar. Sentia medo por estar sozinho mas ao mesmo tempo sentia-se aliviado por não ter que lidar mais com as críticas e com o mundo do lado de fora de sua propriedade. Tinha 36 anos, cabelos curtos e um corpo magro e alto. Chamava-se Jano. E não sabia quanto tempo ele ainda teria que conviver com essa dificuldade de conseguir entender, de conseguir sair de casa e ver outras pessoas. O mundo fora cruel com ele, mas numa proporção normal, a mesma aplicada a todas as outras pessoas que nele vivem. Mesmo assim, ele se sentia como se fosse especialmente machucado pelo mundo, testado até não conseguir mais e preso em seu mundo interno.
"O difícil mesmo era ter que explicar - pensava ele - ter fazer com que todos conseguissem entender como funcionava minha mente pra que elas conseguissem me aceitar e não me achar uma pessoa tão nociva."
Mas não adiantava, tudo era doloriado demais. Ele preferiu a solidão.
Saiu do banheiro de roupa trocada, cabelos alinhados e apanhou, na mesa da cosinha, o sino azul. Se encaminou até a porta e saiu por ela. Um vento lhe refrescou a alma e ele se sentiu confortável, sentimento raro pra uma pessoa em sua condição. Pensou naquele momento que todos os seres viventes do mundo poderiam sentir aquilo, e que apesar de tudo, esse era na verdade um dos maiores objetivos da vida de cada ser: o confortável, seguro...

Desceu dois degraus da escada que terminava em chão de terra, um chão com alta concentração de argila que costumava ficar muito escorregadio quando chovia.

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