4/15/2007

O ZERO E O INFINITO

Ele olhou para seus olhos e notou que a mesma expressão de tantos anos se repetia. Ela não envelhecia e nem dormia, estava sempre ali ao seu lado, perto do seu coração. Ela era o amor da sua vida, o sentido que faltava para a sua existência.

Quando nasceu, Matias era muito fraco e doente. Cresceu em um ambiente catatônico, cercado de impossibilidades financeiras em uma cidade pequena e isolada de todo o resto do mundo onde sempre encontrava a cada esquina alguém para zombar de sua aparência e principalmente de sua magreza e de seus óculos com elevado grau. Passou a adolescência sozinho, abandonado pelos pais, trabalhando para sobreviver. Quando fez a idade para ir embora daquele lugar, resolveu levantar vôo e não olhar pra trás. Chegou a grande cidade onde ninguém o conhecia e onde possivelmente poderia construir uma vida. Foi quando ele viu os olhos da mulher que mudaria sua vida. Matias estava disposto a lutar o quanto fosse possível para poder construir a sua vida da melhor forma possível. Ele foi até ela e totalmente envergonhado descreveu um monólogo poético, digno de fazer com que os olhos que o observavam pudessem enxerga-lo maravilhoso. Ela foi com ele pra sua nova casa e sem nunca dizer uma palavra se quer, deixou toda a vida de Matias mais iluminada.

Era quinta feira e ele resolveu levantar mais cedo. Encarou o mundo a sua volta e percebeu que podia enxergar tudo sem os óculos. Se levantou sem as costumeiras dores no corpo. Ela não dormia na cama com ele, dormia na sala, no mesmo lugar em que vivia sempre. Matias havia sonhado com ela deitada em sua cama e estranhou o fato de não se lembrar de sua voz. Olhou-se no espelho do banheiro e percebeu a mudança em sua face que a ausência dos óculos causava. Caminhou até a sala vestindo sua camisa das quintas feiras quando finalmente ele a encontrou parada, olhando-o como sempre fizera. Ele estava espantado, como pôde viver tantos anos na cidade com aquela moça sem ter percebido. O ar parecia faltar-lhe. Caminhou como um derrotado até ela como se o peso de toda uma existência estivesse em seus ombros.

— Então é por isso que nunca me respondeu, nunca se deitou na cama comigo e nunca me deu sequer um beijo.

Não havia resposta. Ele levantou os olhos e encarou os de sua companheira. Percebeu que a vida que ela tinha era apenas um sopro de sua necessidade de amor. Chorava compulsivamente enquanto posicionava os dedos por detrás de sua cabeça e a rasgava da parede, deixando-a cair no chão.

— Ela nunca esteve aqui! - gritou Matias – Eu vivi todo esse tempo e ela nunca esteve comigo de verdade! Como pude viver até agora apenas com a sua fotografia colada na parede?

Num estante ele percebeu que a sua solidão havia feito com que se apaixonasse pela linda atriz da foto que encontrara quando chegou a cidade, mas contentou-se em ter apenas a foto, achando que isso era o bastante. Olhou para o céu azul pela janela. Levantou-se mais forte que nunca na vida. Pegou o casaco, enxugou as lágrimas e saiu pela porta com a foto nas mãos. Seu único objetivo: conhecer o grande amor de todos aqueles anos.

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