9/25/2012


A sensação de viver impregnado pela cautela me dominou por completo. Nada é perigoso, tudo é calculado em seus prós e contras nos mínimos detalhes. Quando há uma real possibilidade de ruína, por mais sutil que seja, afasto a idéia.

A cautela, essa em específico, pode ser confundida com o medo. No meu caso, a cautela é a pura evolução de um medo crônico que me acompanha desde que me entendo por ser pensante.

A vida se torna um quadro em sépia profundo quando se vive em cautela. O momento mágico é aquele em que ao voltar do trabalho, bebe-se café assistindo TV, programas repetidos aos quais já são conhecidos começo, meio e fim.

Eu sou bom em começar coisas. Péssimo em terminar.
Nunca consigo me desprender de algo que não dá mais para sustentar.

Eu sou também perfeito em me esconder. É comum eu passar dias inteiros sem ser eu. Na verdade, acho que eu já morri em meio à cautela, ao morno, ao conforto cortante que sufoca.

Hoje foi difícil. A angústia foi tão forte que eu a sentia correndo nas artérias. Senti meus pulsos borbulhantes, um desespero que não podia continuar. Dirigi por algum tempo em total anestesia. Catatônico, não sabia para onde estava indo. Até que tracei um destino, apenas para poder ir até ele.

Senti vontade de pegar a estrada. Ir até qualquer lugar. Voltar logo depois (não conseguirei nunca partir sem olhar pra trás) para a mesma cautela de sempre, para o mesmo medo, confortável medo.

Então eu ouvi uma música, que me lembrou de um livro, que me lembrou de uma cena de um filme e então eu me senti um idiota. Pela primeira vez em muito tempo (anos eu acho) eu consegui chorar por alguns segundos. Não lágrimas escorrendo. Choro mesmo.

Respirei mais livre depois dessa merda toda.
Não sei o que o futuro me reserva, mas vou começar a ensaiar alguns atos não cautelosos. Quem sabe um dia eu me lembre de quem eu deveria ser.