7/28/2009


Eu descobri que todas as minhas melhores lembranças são na verdade mentiras. Elas nunca existiram. 70% de tudo o que me lembro com nostalgia é romanceado pela minha mente. Dessa forma, viver no passado tem muito mais sabor que no presente.

7/07/2009

Hóstia
(13-14/12/2002)

Devagar, desenhando seu rosto
E rápido, observando seus olhos
Roendo os segundos de distância
E sentindo o vazio de nós...

Corpo de meu cristo, eu
Cela sem grades para prender
A letargia me aprisiona
Nos poros de meu corpo

A minha letícia vazia se expande a cada dia
Em meu corpo, meu eu, minha hóstia tardia

Rápido, trocando de pele
E lento, rastejando no asfalto
Plastificando os músculos do éden
E sendo o que quisermos...

A minha letícia vazia se expande a cada dia
Em meu corpo, meu eu, minha hóstia tardia
Quebre minha face, reescreva minha estória
Minha lápide de pele, minha casa de escória...



A Serpente
(21/12/2002)

Não, não quero compreender o que não posso
Só supor, e deixar que exista sem minha mão.
Não, não quero deitar numa cama sem lençóis
Prefiro dormir ao relento, curar meu sono cristão.

Não, não quero olhar por essa janela entreaberta
Prefiro me contentar com a imagem de sua fechadura.
Não, não quero comer a carne do corpo de uma mulher
Prefiro morrer com a fome que devasta minha escultura.

Desisto de saber o que são os segundos do meu dia
E prefiro compor para mim mesmo, uma sepultura
Uma lápide onde se lê: ¿morte tardia¿.

Corto pela raiz os sentimentos naturais do ser
E prefiro compor para mim mesmo, uma melodia
Uma canção sem palavras para dizer.


A Chuva Tardia

À noite, a mesa fria e vazia
Com sua amargura e frieza,
Contando aos olhos toda a tristeza
Que obtém uma chuva tardia.

Na parede da casa ela escorria
Sem esperanças de algo brotar,
O concreto sem sementes para germinar
Abrigava meu filho que de fome morria.

E para dentro da igreja tentamos nos salvar
Mas a chuva e a fome conseguiram nos derrubar
Para no solo agora fértil, começarmos a morrer!

E nossos corpos deitados na terra
Contemplando a chuva que se encerra
Fertilizando o solo com nossas células a perecer.



Floresta
(06/04/2003)

Sozinho, a incerteza gerada
Pela escuridão de mim mesmo
Congela lentamente a razão
Que não mais me acompanha

Deserto, a visão das árvores
Destrói aos poucos o rastro
Que deixei esculpir na alma
Para que a alma seguisse sem mim

Um último momento para dizer adeus
A floresta de mim cresceu demais
Folhas derramadas em um solo sacro
Que sujam, e quebram a paz...

Petrificado, angustiado
Exaurido, e despedaçado
A fé, o abismo, a liberdade
A dor de não saber a verdade



11

Deitado, uma praia negra dorme atrás de mim
Como o vento que já não é mais o mesmo
Eu me torno aos poucos, eu me dilacero, devagar...




Olhos

Aos sonhos de cada deus
Aos olhos de cada ser
Me locomovo perante ti
Me arrasto diante da escuridão

Sob as cidades por um fio
Durmo a noite dos mortos
Que teimam em tentar dizer
Teimam em tentar me acordar

Mas as rosas de sangue que vieram de longe
Parecem querer sempre mais para viver
E não murcham, mesmo com o sol escurecido.

E as sementes plantadas no solo hostil
Tentam germinar, tentam transpor a barreira
Tentam em vão, cortar as cortinas da lua...




A Musa Doente
(27/06/2003)

Ah, minha musa que se estende
O que faz o corte no teu corpo
Que continua oco, mesmo em manutenção
Ah, meu vento passado
Sentindo a pele que não sabe
De que dela cabe a frustração

"Loucura e horror, nas sombras taciturnas."

Ah, minha Eliete sôfrega
O que faz em tuas palmas a carne
Crua mas que não sabe quem a matou
Ah, a tal letícia já se foi
Conta pro teu corpo
De olhar também oco, o anjo que o levou.

Não há ventre pra gerar, meu amor...

Uma musa que esteve doente
Quando eu tive medo de perguntar
Estragou seu belo vestido
Só para tentar se curar
Teus olhos ocos são agora
Visão da noite a perguntar
Talvez comer ópio me ajude
Talvez as estrelas e a lua possam me ajudar.

"Medo e frio, parece que toda a vida se foi de mim. Eu sei, a culpa foi toda minha, não precisa gritar. josias ou eliete, tanto faz do que queiram me chamar. eu só queria poder ser o que eu era, um templo vivo, um ser humano, uma taça a esbordar."



A terra além da floresta
(14/11/03)

Bm7 F#m7 G D
Através dos montes Cárpatos
Bm7 F#m7 A A#º
Eu sei que você vem
Bm7 F#m7
Então
G D Bm7 F#m7
Traz a dor da compaixão
A A#º
Em meu corpo só
Em Bm
Que seria sim
G A
O meu templo em fim
A#º
Mas que se foi de mim
(B G E F#)2x
Bm7 F#m7 G D
Eu parti, de mim mesmo a tempos
Bm F#m7
Atrás
A A#º Bm7 F#m7
Me perdi e não senti
G D Bm7 F#m7
Toda a deformação
A A#º
Minha cela então
Em Bm
Minha nova casa
G A
Minha nova razão
A#º
minha velha destruição
(B G E F# B G F# A A)
G
Eu sei
B
Eu sou
E
Eu tentei
F#
Não durou
G B
O que eu pude fazer
E F#
ESTOU PRESO EM MIM MESMO!

(B G E F#)4x (G A B)4x
(G A Bm)
Não adianta mais
Ele já se foi
O meu único deus
A
EU...

G
...sei
Bm
Já não sou
Em
Eu tentei
F#m
Acabou
G Bm
O que eu pude fazer
Em F#m
Estou preso
Em F#m
Estou preso
Em F#m Bm
atrás de grades que nunca irão cair.




Josias
(25/10/2003)

Existe uma multidão estagnada
Dentro de meu coração
Ele se debate e uiva
Mas não consegue em fim vencer

Existe em mim a questão:
Que olhos vão durar pra me ver
Quando a vida me vencer
E por fim me tornar chão?

E quando será isso, já que temo
Já que peço e preciso
Desse minuto de compaixão
Dessa prova de estar vivo
Desse derradeiro destino que nos traz
Com certeza a sensação
De viver?

E quando poderei ver o mar como espelho
Pra corrigir minhas infinitas imperfeições
Pra espelhar o céu que é infinito
Pra livrar me da cadeia
Viver
Morrer
Renascer

Grades
Grades
Grades



Coma
(21/03/2003)

Oh Pai, meus olhos não mais enxergam,
Eu tento me esquivar, mas estou cego
E quando finalmente sou atingido
Sangro pecados salgados de meu ódio

Oh Pai, meus ouvidos teimam em não escutar
Sei que existem tantas palavras, mas estou surdo
E quando por um instante lembro-me de sua voz
Ela é sugada pelo resto de meus ruídos

Oh Pai, minha pele agora já está dormente
O vento, o sol e a chuva existem, mas não posso senti-los
E quando sei que sou ainda um ser humano
Volto a lembrar o que é a dor, e perco a consciência

Oh Pai, minha boca e minhas narinas não mais sentem
Meu mundo particular está criado, sem cheiros e gostos
E quando consigo construir meus prédios catatônicos
Um terremoto gigantesco me mata de cada maneira

Deixe-me morrer finalmente, se ainda não morri
Deixe-me partir de mim mesmo, e encontrar a luz

A luz que a muito não contemplo, que a muito se escondeu de mim
Atrás de pupilas rasgadas por minhas próprias unhas
Os sons que se foram por causa de uma tristeza imensa
Que matou minhas células, necrosou meu mundo
Os prazeres que partiram inevitavelmente quando a frieza
Dos metais resolveu conhecer a ingenuidade de minha medula
Quando por final me entreguei a meus próprios méritos
Quando por inteiro deixei de ser o que eu sempre fui
Ou apenas conservei os vermes de minha alma
Matando, meus últimos momentos de naturalidade
Com drogas eternamente simbióticas a meu ser doentio

Oh Pai, salva-me desse universo insípido
Dessa amargura branca, desse monstro alado

Oh Pai, olha pra mim e diz, diga pra mim e sinta
Sinta por mim e ame, o que nunca pude amar...



Silêncio (Para Mim)
(17/07/03)

I
Nos meus olhos, dores infinitas
Talvez nada possa me curar
Nos meus dias, o sol escuro
Canta a morte bem devagar

As grades são as verdades
Os muros são as dúvidas

Nada pode me fazer querer
Nada que existe em mim
O meu corpo só é um hospício celular
O meu ser brinca de ser alguém a se odiar

II
Palavras são a liberdade
Ações são minha razão

No meu corpo, vejo a precisão
E temo agradecer pra sempre
Nos teus olhos, vejo você
Somos o mesmo separados pra sempre

Nada vai me impedir de ser
Nada vai me dizer seu nome
O universo só é uma passagem física
Minha alma é quem diz quem sou

III
O futuro não é mais o que o passado tentou fazer
Minhas mãos nunca estiveram sozinhas
O meu corpo é uma peça importante do jogo
Mas meu único Deus é maior que isso

Veja-me agora que estou aqui
Veja-me agora que sou imortal

E as flores do meu jardim nunca mais irão morrer
Pois suas pétalas agora sabem que eu existo...




XVII

Um sol pálido me cobre de luz
Me ilumina a tarde, sólida
E me contemplo só em uma esquina
Sozinha ela vai embora
E eu a mantenho, em minhas veias.
Um gosto branco em minhas narinas
Sua pele e seios
Ela




Pequeno Monólogo de Alguém
(03/02/2003)

Detesto ver os olhos de quem não me enxerga
Detesto observar o que não posso ter, acima de mim
Detesto ter que olhar pare meu futuro

Detesto ter que beijar a boca amarga e dizer doce
Detesto esconder de mim mesmo o que eu não preciso, o que eu não sou
Detesto que todos me vejam, e ninguém me enxergue.




Palavras
(08/01/2004)

"Palavras mortas deitam-se
Sobre cada neurônio meu,
Elas tentam cobrir-me do sol
Que a muito se foi de mim"

Palavras sóbrias soam,
Um ser incerto as ouve
Digere de forma dolorosa
Defeca de forma repugnante!

"Quem sou eu meu Deus?" grita a criatura
Tentando compor em canção tal pergunta
Descobrindo que o céu é uma mentira

E caindo ao solo que agora lhe inspira
Percebe grãos perfeitos de areia musical
E olha pro céu que agora é só feito de palavras...




Oceanos (Parte II - O milagre e o entendimento)
(9 e 13/06/02) Para meu avô Rubens

Meus olhos abrem-se para o que nunca vi
Percebo o que sempre procurei
Eu sei de que são feitos meus oceanos

E por mais que o céu espelhe a todo o conhecimento
De mim nuca conhecerão o sono
Dorme em meu colo o entendimento
De meus sonhos então a cela/o ser e a dor

De baixo das pétalas do caule
Existem sonhos ainda escondidos
Eles desembocam em rios de meus oceanos

E por mais que o sol ilumine meu esquecimento
Não há mais luz pra me acordar de manhã
Nas visões dos meus netos encontro o tormento
De uma sinfonia surda que ninguém ouviu

A poesia que um dia foi minha
Se consumiu por completo e sozinha
Não existe dor em meus olhos
Pois todos os anjos já foram mortos




O Segredo

Tudo aquilo que pensei ser
Todos os sonhos que pude ter
São flores maldosas, maldade e razão
Meu corpo é uma cela, células e prisão

Mas sei que não há mais segredos aqui

Inertes
Inférteis
São sonhos mortos que não podem
Ser
Existir
Em primaveras negras o medo...

"Eliete, me conte o porque
Se todos se foram, pra que viver?"
Espinhos em taças que não transbordam
Secam/evaporam, desistem/inexistem

Inertes
Inférteis
São sonhos mortos que ninguém pode
Ser
Existir
Em primaveras negras o medo
do segredo
do desejo de ser
o segredo
é que não podemos ser

Inertes e inférteis, são sonhos mortos que alguém pode ter
E sentir a primavera negra em que o medo...




Nova
(05/07/03)

Nova sente a vida diferente
Passados moram em sua mente

E não passarão - Monstros na escuridão
Morte-cor em seus olhos - A visão...

Nova sente a morte de repente
Seus lábios a beijam de frente

E não restarão - fragmentos no chão
Morte é seu nome - Nova não...

"Lábios que se abrem para o beijo
mas nunca sentem o frio a deslizar
Morte em tudo que eu desejo,
Mortos dentro de meu olhar..."

Morte, meu coração - Solte minha mão
Deixa o ser em mim mesma - Nova visão.



Morfina
(12/08/2003)

Existe um compromisso de cada célula
Com a morte que espera, a cada momento
Existe em mim, o compromisso com a dor
Com a morte e com o sabor da vingança.
Uma lâmina que corta mais fundo a cada dia
Se encarrega de resgatar o que era meu ódio
Uma lâmina que destrói minhas células
Que me causa de longe, uma grandiosa autólise.
Deixe-me morder meu corpo
Ele só quer sentir um pouco mais dessa dor
Deixe-me cortar meu corpo
Ele só quer sentir-se único em um mundo distante

Ah, um abutre que vociferou meu nome
Guarda o pedaço do granito afiado
Que entre os dias que trago
Para meu túmulo velar.
A porta que nunca mais se abrirá
Mas que permitirá olhar
Para dentro de minha eternidade
E perceber que sou nada

Mais um homem em um infinito campo de acácias
Que se rasteja entre a perfeição das pétalas
E a tortura dos espinhos afiados
Mais um coitado que se perdeu de casa
Que nunca mais voltará a ser o que é
Que tem medo de virar cada esquina de sua vida.
Longe de seus abismos e na verdade dentro deles
O céu é apenas um infinito mar de sonhos
Nunca atingido
Nunca transposto
Até agora...


O Cemitério
25/03/2004 às 22:42
E existiu a incerteza,
Que se cultivou cedo
Em campos vazios
E ásperos chamados de coração...

E a ela foi confiada à água
Que escorria como lágrimas
Das rochas mais altas
Da planície que é a face.

E a incerteza tornou-se dúvida
E a dúvida, rancor e finalmente
Ódio, quando todos foram embora.

E um dia a água cessou
E o áspero campo tornou-se cinza
Onde novas flores começaram a crescer.



A Um Inimigo
14/02/2004

Recoberto pela imensa névoa da alucinação
Voltado para rasgos pequenos e invisíveis
Ele contempla a chuva em suas veias
A queda de milhões de pedaços de si mesmo

Tocando-se ele percebe a carne por baixo da pele
E consulta a si mesmo sobre a possibilidade
Lambe-se e comprova o sabor, grita e comprova o som
Vivo e sem saber porque, emerge lentamente

A lama uterina criada por completa imunodeficiência
Passa-a para mim e desgasta a terça parte
Globos oculares que nascem mortos pra ver o sol
Glóbulos pequenos escapando por entre os poros!

Insatisfeito ele rabisca o sol com as unhas
Imperfeito a sua carne se decompõe lentamente
Inconformado por não conseguir o sustento
A mandíbula cai da face e seus olhos choram

Contando até os últimos momentos
Seus vermes o abandonam pelos orifícios
Sangue no chão
E no teto

Caindo sob a árvore ele percebe o chá
Entorna sobre seu cabelo, molha o coro
Não percebeu e não molhou de verdade
O mundo não parecia tão aconchegante

Corta-se
Arranha-se
Destrói-se
Mutila-se

Novamente seus olhos abrem-se para ver a chuva
Que cai lá fora
Levando-o embora
Pra sempre




Frágil

De repente, a vida tornou-se frágil
E as nuvens de arrogância se dissiparam

Ah, e meu mundo tão real
Se tornou abstrato demais
E meu dia surreal
Trincado em sua borda de cristal

E a vida passou diante de minha janela
Sem entender, eu me atirei nela

E sobre Minha Paz
A que sempre pude perceber
E sobre minha dor
A que sempre pareceu real

E os deuses passam na semana
Que não mais quero ter em paz

Ah, e meus dias tão reais
Se mostraram frágeis demais
E meu mundo surreal
trincado em sua borda de cristal


Absinto
02/05/2004 (4:14 da manhã)

Fada
Destrua as pontes de minhas ilusões
Seja
A sobra verde que reforma as paixões
E erga meu peito e rasgue meus sonhos
Que caiam por terra os dias distantes
Entorpece os olhos a muito tristonhos
Com o ar ácido e palavras cortantes

Em minhas veias, pecados mortais
A meus olhos: tarde demais
Em garrafas de sonhos carnais
Suicídio: meu medo traz...

E nas folhas: o mal impiedoso
E no ventre...
Em meus braços: o ar rancoroso
Em minha alma: absintio!

Fada
Arrasta de mim o real carrasco
Seja
O que me salva do fracasso
Mata meu corpo e destrói o passado
Com o sumo da erva o amargo da luz
Corta meus pulsos, meus olhos vendados
Com o verde do suco o mundo abstrato!

Onde foram parar os sonhos que tentava guardar?
Onde foram parar minhas dores que tentava matar?




A canção da raiva
18/06/2004

Pele e escarro caindo de mim
Sangue e sonhos pingando
E eu não estarei vencido
Estarei sob meu altar
Em vocês!

Lágrimas e gritos enchendo a sala
Lesmas e grifos me arranham
E eu ainda estrei de pé
Vomitando eu mesmo
Em vocês!

E o que eu digo morre em mim mesmo
E o que canto serve para mim mesmo
Enquanto houver vida, haverá luta!




A PRAIA VAZIA
(22/09/2004)

...e a praia deserta
Cantando com o vento
Uma melodia difícil
Descobre o espinho
Da noite invisível
Que perfura o dedo
E sangra singela

...e despida se deita
No manto do mar
Sob um lençol estrelado.
A dúvida te corta
Como um espinho dourado
E o vazio te observa
Pela janela imperfeita.



(05/11/2004)

O frio da pele se confunde
Se desmonta sobre minha língua
Que desesperada se atormenta
Pelo suor de sua testa...

E me guio devagar em tua coluna
Descendo e sentindo os minutos
Olhos que se foram de suas órbitas
Em momentos de tato e gustação

Líquidos do meu corpo se despedem de mim
Se escondem em sonhos de sua pele
Que me acorda toda tarde de sábado

E a língua que esfrega em tuas costas
A saliva e o sabor de minha única pele
Esquece a vitória do dia e enfrenta a tortura da noite





Um poema pode ser uma frase
Um pomar pode ser uma árvore
Uma cantiga pode ser uma nota
Um carinho pode ser uma palavra

Um minuto pode ser tempo demais
Tempo pode ser o que não há
Dizer pode ser além do permitido
Além do que me permiti fazer aqui

O mundo anda pequeno demais pra mim
O século passa rápido demais entre meus aniversários
A noite se esconde na futilidade dos poetas

Eu sou fútil: sou poeta
Sou músico e escritor
Sou apaixonado mas não apaixonante
Sou a lástima de mim mesmo
O medo
O muro
O surdo