2/18/2008

A estória de minha própria loucura parte 6 - escreverei pra sempre, enquanto o sempre não tiver seu fim.

Havia na memória quase desperta de Jano um sonho breve, algo como um beco sem saída onde tinha entrado mas não conseguia achar mais o caminho da rua. Lentamente abriu os olhos e observou que os lençóis estavam cheios de manchas pequenas de sangue. Achou estranho já que repetia diariamente o ritual de trocar suas roupas de cama. Além disso, seu corpo não mostrava nenhum sinal de ferimento. Sentou-se na cama e passou a mão nos cabelos compridos tentando provocar o alinhamento dos fios da melhor forma possível com os dedos. O quarto da casa da sua mãe era na verdade o maior de seus refúgios. Mesmo agora, nesta fase onde Jano passava a maior parte da vida perto do trabalho pois ficava muitíssimo tempo em torno de suas campanhas de publicidade, o único lugar do mundo que parecia fornecer a ele a sensação de estar seguro era esse quarto.
9:30 da manhã, ele olhou no relógio de pulso que vivia pendurado na guarda de sua cama e se lembrou que havia marcado um encontro com uma estudante de psicologia para poder ajudá-la a criar uma campanha publicitária para a clínica da qual fazia parte. Extranhamente a mulher se chamava Lua e tinha uma voz que sibilava entre o suave e o irritante. Era tudo o que ele conseguia saber pois até o presente momento só tinha conversado com ela por telefone.
Levantou-se, cumpriu rigorosamente seu ritual matinal de tomar o desjejum lentamente lendo algum livro, escovar os dentes, colocar uma música e se trancar no banheiro onde por sua vez ele se concetrava sozinho tentando acumular forças para viver seu agitado dia.
Na verdade Jano estava morrendo de medo. Não sabia o que estaria se passando com sua vida. Sentia-se perdido em meio a um complexo sistema de verticalização do qual ele não queria fazer parte. Sentia medo por estar estagnado profissionalmente e muito em breve, criativamente. Jano sentia pavor de passar mal em um lugar onde ninguém o conhecesse, ser levado para um hospital de carniceiros e pegar alguma infecção ou algo pior. Jano sentia-se doente por causa das inexplicáveis manchas em seu lençol. A única coisa que ele consguia pensar era que as manchas poderia ser resultado de uma tosse noturna. Isso por sua vez indicaria que seus pulmões estivessem com algum problema grave. Sentiu então uma dor, como uma faca sendo cravada em suas costas. O pulmão doía, mas não havia doído até o presente momento quan Jano havia supostamente encontrado a explicação para as manchas.
Saiu do banheiro muito tempo depois e pois-se a ir de encontro a Lua. Levou bastante tempo pegando o metrô e quando lá chegou, Lua já lhe esperava.
- "Olá, meu nome é Jano. Gostaria de falar com a senhorita Lua por favor."
- "Aparentemente rapaz, a sensação de estar vivendo em seu mundo catatônico transforma sua visão em algo borrado e não acessível ao cérebro. Eu sou Lua, e este é meu crachá, como pode notar, meu nome está nele."
Jano preferiu não debater tal grosseria. Lua por sua vez pareceu guardar rancor por um fato tão insignificante. Ela fez com que Jano entrasse em seu escritório para que pudessem conversar sobre as propagandas e foi lá que Jano começou a ver que tudo no universo apresenta alglum tipo de sentido.

2/17/2008

A estória de minha própria loucura parte 5 - escreverei pra sempre, enquanto o sempre não tiver seu fim.

- "Tem gente que diz que nós viemos parar nessa terra pra poder entender melhos o que há acima das estrelas menino. Você sente isso?"
Jano esboçou um sinal positivo enquanto ainda tentava contemplar a sua impossibilidade de retornar à sua casa.
- "Ele fez isso com você, levou seu sino. Ele parecia querer te ajudar, mas apenas roubou você. O que será que despertou o interesse dele pra lhe cometer esse mal?"
Jano não mais ouvia o segundo agricultor que continuava de pé atrás dele. Quando Jno se virou, notou a grande árvore carregada de frutos e decidiu rapidamente comer seu remédio. Não sabia ao certo se era veneno ou a cura pros seus males, porém, ele não se importava agora, qualquer uma das duas alternativas funcionaria. Ele só queria não ter que estar sentindo tanta aflição.
Andou até a árvore mas se sentiu enfraquecido a cada passo até chegar a cair de joelhos e não conseguir levantar os olhos.
- "Você não conhece o significado do poema dessa árvore. Ela está aí plantada há muito tempo e ninguém vivo conseguiu ter a energia vital que ela acumulou durante todos esses anos."
Jano olhou para o homem com aparência de agricultor e esse lhe estendia a mão. Ao se levantar ele notou que estava um pouco mais aliviado, mas que ainda sentia o pânico causado pela incapacidade que a falta do seu sino lhe proporcionava.
- "Meu nome é Havir. Eu vim até aqui para aprender, assim com você. Estou aqui para levar você pelo caminho mais curto até a sua casa."
Jano não entendia, mas não havia mais o que fazer. Seus olhos desesperados se movimentavam sem parar em suas órbitas esqueléticas. Mãos frias, estômago horrível.
- "Me ajude por favor" - Suplicou Jano.
- "Sim, farei o que puder. Mas saiba que no final, você terá que pagar isso com a mesma moeda."
Jano fez que sim com a cabeça sem ao menos pensar no que significava "pagar com a mesma moeda". O desespero lhe obrigava a depender inteiramente da ajuda de qualquer pessoa. A vontade de se suicidar nesse momento era gigantesca. Sua mente não parava de pensar na estória que lera onde um dos personagens se deitava no chão do aeroporto e dizia que ali era muito confortável e que era um absurdo as pessoas não saberem disso. Esse personagem com a demonstração apetitosa de conforto acabara de ser levado pela morte. Seria a morte um conforto além do normal? Essa era a idéia que o fazia querer encontrar-se com essa pálida menina de preto.
E Havir, olhando nos olhos de Jano disse:
- "Precisamos nos apressar. Mesmo o caminho mais curto é ainda muito longo."
Virou-se e começou a caminhar para dentro da floresta.